Título: Uma bela história de 45 anos
Autor: Paulo Octávio
Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, Brasília, p. D2

Senador e presidente do PFL-DF

A maior obra da América do Sul - prova da capacidade dos brasileiros em escrever sua própria história, embalados no sonho e na determinação do estadista, Juscelino Kubitschek - Brasília chega aos 45 anos de existência, consolidada em seus espaços urbanos, emancipada politicamente, reconhecida constitucionalmente em seu papel de sede dos Poderes da República e envaidecida por ostentar a grife de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Brasília foi palco privilegiado e cenário vivo das grandes transformações da história contemporânea do país, que assinalam a segunda metade do século XX como a época da evolução e do amadurecimento da nossa democracia.

Juscelino Kubitschek em sua obra Por que construí Brasília, parecia vaticinar quando escreveu: ''há um Brasil de antes de 1956, afundado no marasmo econômico, descrente de si mesmo, e outro Brasil, confiante nas próprias energias, otimista, cioso da sua soberania e consciente do relevante papel que lhe compete representar no concerto das grandes nações''. Quando ele construiu Brasília não estava construindo apenas uma cidade, uma capital, mas o marco histórico de um país, delineando ali o seu futuro.

Juscelino nos deixou esta herança monumental que traduz a sua vontade, o trabalho, a dedicação, a determinação e sobretudo, uma enorme obstinação. E que enfrentou todas as dificuldades imagináveis, desde a oposição virulenta do Congresso Nacional e da imprensa à obra, até as enormes dificuldades logísticas enfrentadas na construção da cidade.

Brasília assistiu e sobreviveu a todas as crises políticas dos últimos anos. Viu a renúncia do Presidente Jânio Quadros, observou a fugaz experiência do parlamentarismo, conviveu com os governos militares e assistiu a agonia e morte de Tancredo Neves, o mártir da abertura política. Recebeu a sua carta de alforria política em 1985 com a aprovação de emenda constitucional que permitiu as eleições, no ano seguinte, dos seus primeiros Senadores e Deputados Federais e, com isso, ganhou representação na Assembléia Nacional Constituinte. Em 1990 chega à maioridade política, elegendo pela primeira vez o Governador e a composição da Câmara Legislativa com 24 deputados Distritais.

A Capital da República, com seu traçado monumental e sua gente politizada muito contribuiu para a abertura política depois dos anos de chumbo da ditadura. Com as manifestações dos estudantes na UNB, nos anos 70 e a resistência das lideranças políticas sem partidos, entrincheiradas na Associação Comercial e na seccional da OAB-DF, Brasília prestou bons serviços à nação. A resistência ao regime era aberta, nos enfrentamentos às prisões, às dissoluções de reuniões públicas e às desmobilizações de manifestações populares à força, no período das Medidas de Emergência, baixadas sobre a cidade pelo último Presidente General, sob pretexto de manter a ordem quando pretendia na verdade amordaçar aqueles movimentos que já reverberavam por todo o país.

É importante registrar também que a história do meu partido, o PFL-DF, se funde com a história política de Brasília. Foi criado pelo pioneiro Osório Adriano, ao tempo da constituição do PFL nacional, que legitimou o Colégio Eleitoral em 1985 e sepultou de vez a ditadura com as eleições de Tancredo Neves, à presidência da República e José Sarney à Vice-Presidência. E, agora em 2002, foi o partido responsável pela criação do Fundo Constitucional do DF, projeto de minha autoria, que contou com a colaboração decisiva do então senador Lindberg Cury e que foi sancionado pelo Presidente Fernando Henrique no penúltimo dia do seu governo.

Creio ser chegada a hora de retomar o sonho de JK, com as lições que aqui ficaram inscritas em concreto e aço. E, se chegamos ao limiar da consolidação espacial e urbanística da Capital, precisamos avançar para além do cenário paisagístico e arquitetônico já consagrado aos olhos da nação. É preciso consolidá-la politicamente no conceito dos brasileiros, que é, em última análise, a sua razão de existir.