Título: Dirceu é o mais cotado para a Coordenação Política
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, País, p. A4

Ministro conta com o apoio da cúpula do PT para chefiar a secretaria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguarda apenas o encerramento da Cúpula América do Sul-Países Árabes na próxima quarta-feira, para anunciar a alteração no comando da Secretaria da Coordenação Política. Auxiliares diretos do presidente o aconselharam a resolver logo a questão que mergulha a articulação com o Congresso numa crise sem precedentes desde o início do mandato de Lula. O chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, é hoje o mais cotado para o lugar de Aldo Rebelo, que estaria demissionário desde a semana passada. Dirceu teria o apoio de pesos pesados do governo, além de toda a cúpula petista. Também trabalha pelo cargo o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Corre por fora, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA).

A mesma lógica que era aplicada durante as negociações para a ampla reforma ministerial, frustrada em março, é retomada agora pelo círculo mais próximo do presidente Lula no sentido de emplacar de uma vez por todas um petista na coordenação política. O governo precisa resgatar a ascendência sobre o Congresso e Dirceu seria a solução natural por se tratar de alguém afinado com os interesses do partido ao mesmo tempo em que representa o governo, com exceção do presidente, com mais autoridade do que qualquer outro. Pesaria contra o chefe da Casa Civil o poder que acumularia ao incorporar a nova tarefa. Lula temeria perder o controle do governo ao concentrar fatia considerável do poder nas mãos de Dirceu.

A nomeação do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, daria, segundo aliados do petista, um fim à disputa pela candidatura ao governo de São Paulo em 2006. A contenda interna pode respingar nas costuras para a reeleição. Além do ex-presidente da Câmara, são candidatos o senador Aloizio Mercadante e a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Durante as negociações para a reforma, em março, Dirceu foi o emissário do convite para que João Paulo Cunha assumisse a liderança do governo na Câmara. Seria uma maneira de tirá-lo do páreo da disputa pelo governo paulista.

João Paulo não gostou da idéia. Enxergou ''as digitais'' de Mercadante, o preferido do Planalto. E revelou a interlocutores, que só desistiria de ir às prévias com Mercadante caso fosse contemplado com um alto cargo como o de ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política.

O momento agora não poderia ser mais propício, avalia um ministro político do Planalto. Os partidários de João Paulo, no entanto, teriam a tarefa de dobrar Lula, que estaria irritado com as recentes críticas públicas do petista à condução da política econômica.

O nome da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) também voltou a ser lembrado no Planalto. Seria uma maneira de contemplar o senador José Sarney (PMDB-AP). A julgar, no entanto, pelo posicionamento de aliados do governo, os problemas no Congresso transcendem a articulação política.

Aldo Rebelo negou ontem ter pedido demissão:

- Não tenho interesse em deixar o cargo. Quero ajudar o presidente até a hora em que ele precisar.

Com Folhapress