Título: Cresce protesto contra EUA
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/05/2005, Internacional, p. A8

Mais nove pessoas morrem no Afeganistão

CABUL - Os protestos contra os Estados Unidos se intensificaram ontem no Afeganistão após a oração muçulmana das sextas-feiras. Pelo menos nove pessoas morreram, entre elas policiais, quando as forças de segurança tentaram impedir invasões a sedes oficiais e de organizações ocidentais. Com este número, chega a 16 o total de mortos desde o começo das manifestações, na terça-feira, em Jalalabad (Leste).

A revolta começou em função do suposto desrespeito com que militares americanos teriam tratado o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, durante interrogatórios a detidos muçulmanos na base americana de Guantánamo.

A manifestação mais violenta aconteceu em Ghazni, a 150 km de Cabul, onde, segundo algumas testemunhas, pelo menos cinco pessoas morreram, quatro delas policiais.

Os manifestantes pretendiam atacar o escritório do governador, mas foram impedidos por forças do Exército. O ministério do Interior sustenta que estes incidentes foram causados por ''extremistas e inimigos do Afeganistão'', de fora de Ghazni.

Em Baharat, na província de Badakshan, três pessoas morreram e 31 ficaram feridas quando a polícia abriu fogo contra centenas de manifestantes. Mais uma morte foi registrada em Badghis durante os protestos.

Os enfrentamentos entre as forças de segurança e os ativistas islâmicos começaram depois de algumas tentativas de ataque a sedes de escritórios de organizações não-governamentais. Os manifestantes pediam ''morte aos EUA'' e ''morte a Bush''. Também atearam fogo a bandeiras americanas.

Há poucos dias, a revista americana Newsweek publicou que militares de Guantánamo deixaram exemplares do Corão nos banheiros para provocar a ira dos prisioneiros muçulmanos. Um dos livros teria sido jogado no vaso sanitário.

Ontem, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, lamentou a denúncia do comportamento americano em Guantánamo e pediu que os muçulmanos de todo o mundo mantenham a calma.

- A falta de respeito ao sagrado Corão não é, nem foi, nem será nunca tolerada pelos EUA - afirmou Rice, durante um discurso no Senado.

Khurshid Kasuri, ministro de Exteriores do Paquistão, onde também houve protestos - principalmente em Karachi -, salientou que deveria haver um castigo para os culpados por essa ''abominável'' e ''horrenda'' profanação do livro sagrado do Islã.

- Não tenho dúvidas de que todo o mundo muçulmano se sente ofendido. Portanto, peço ao governo dos EUA que tome medidas muito sérias contra os culpados - declarou.