Título: Mais um a receber o apoio de Lula
Autor: Daniel Pereira, Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Parde
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, País, p. A3

Presidente diz estar solidário a Roberto Jefferson, tenta barrar CPI da propina, mas oposição diz ter assinaturas necessárias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que era ''solidário'' ao presidente do PTB, deputado federal Roberto Jefferson (RJ). A declaração foi feita durante almoço no Palácio do Planalto com líderes de sua base de apoio na Câmara. Lula repetiu o comportamento adotado nos casos do ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB), e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente afirmou que ninguém pode ser condenado antes da hora.

Dirigindo-se diretamente ao líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), confirmou que o governo está solidário ao presidente do PTB.

À noite, mesmo com a resistência dos governistas, os partidos de oposição conseguiram as assinaturas necessárias para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista destinada a apurar supostos esquemas de corrupção dentro dos Correios e de estatais. Às 20h20 de ontem, 183 deputados, inclusive da esquerda do PT, haviam assinado o requerimento. Eram necessários 171. Pelo menos 38 senadores também apoiaram a iniciativa, 11 a mais do que o exigido. O pedido de CPI tende a ser apresentado ainda hoje.

O próprio Roberto Jefferson assinou o pedido de CPI às 17h45.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ainda nutre esperanças de a CPI não sair do papel. São vários os motivos. O governo já adotou as medidas administrativas necessárias para investigar o caso. Sem contar a influência do presidente Lula.

Mal desceu da tribuna, Roberto Jefferson foi cumprimentado pelo ministro da coordenação política, Aldo Rebelo. Recebeu também um telefonema do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. O tom de ambos era o mesmo: o discurso foi bom, serviu para aliviar a pressão. Para o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o mais forte do discurso do petebista foi, no entanto, o apoio à CPI.

Mais cedo, no almoço, o presidente Lula disse ao ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), que se manteve calado na reunião.

-Aldo, as pessoas quando são acusadas devem ter o direito de se defender - disse

Lula, então, orientou a Aldo ir à Câmara assistir ao discurso de defesa de Jefferson. Diante da chance de continuar no cargo, o ministro se reuniu com líderes e arregimentava deputados para irem ao plenário ouvir o presidente do PTB. Aldo quis dar uma demonstração explícita de solidariedade a Jefferson.

Mais tarde, o ministro da Coordenação Política relatou a Lula que considerou ''bom'' o discurso de Jefferson, apesar de petistas terem avaliado que ele transferiu para o governo o ônus de evitar uma CPI dos Correios para investigar as suspeitas de corrupção envolvendo indicados do PTB para os Correios.

A ordem de Lula é evitar a abertura de CPI com base na reportagem da edição desta semana da ''Veja''. Durante o almoço, o presidente disse que não era favorável à CPI porque ela seria usada politicamente pela oposição para prejudicar sua gestão.

Num gesto que contrariou Lula e membros da cúpula do governo, o vice-presidente da República, José Alencar, disse ontem que assinaria o pedido de CPI se estivesse no Senado.

- Quando fui senador, sempre assinei os pedidos de CPI porque sou favorável às investigações - declarou em visita ao Congresso. O presidente do PT, José Genoino, afirmou que o governo tomou medidas duras para investigar a suspeita de corrupção nos Correios e ''esclarecer tudo''.

O presidente do PT, José Genoino, afirmou que o governo tomou medidas duras para investigar a suspeita de corrupção nos Correios e ¿esclarecer tudo¿.