O Estado de S. Paulo, n. 46623, 11/06/2021. Metrópole, p. A10

Estudo aponta como defender biodiversidade

Emilio Sant'Anna


É como um ciclo vicioso. Impulsionado pela ação humana, a redução da biodiversidade e as mudanças climáticas se reforçam e agravam os efeitos uma da outra. Se não forem enfrentadas ao mesmo tempo, com políticas públicas coordenadas, nenhuma das duas pode ser resolvida nem ter seus efeitos negativos mitigados, aponta um relatório realizado por um painel de 50 especialistas de todo o mundo.

Lançado ontem, o estudo resulta da colaboração entre o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), ligada às Nações Unidas (ONU). O texto conclui que tanto a redução da biodiversidade quanto as alterações do clima têm impactos negativos sobre o bem-estar humano e a qualidade de vida.

A maior concentração de gases do efeito estufa, por exemplo, leva ao aumento das temperaturas, a mudanças nos regimes de chuva e a eventos climáticos extremos mais frequentes, além do esgotamento de oxigênio e acidificação de ambientes aquáticos. Esses fatores afetam negativamente a biodiversidade. Essas alterações afetam o sistema climático especialmente por meio seus impactos nos ciclos de nitrogênio, carbono e água. Essas interações podem criar feedbacks complexos entre clima, biodiversidade e seres humanos – e assim produzir resultados mais pronunciados e menos previsíveis. Ao todo, o estudo lista 41 situações a serem combatidas.

O aumento do consumo de energia, a superexploração de recursos naturais e a transformação sem precedentes do meio ambiente terrestre e marinho nos últimos 150 anos ocorreram paralelamente aos avanços tecnológicos que proporcionaram meios para a melhora do padrão de vida para muitos. Ao mesmo tempo, isso levou a mudanças no clima e à aceleração no declínio da diversidade biológica. Resultado: a mesma qualidade de vida impulsionada por esse processo sofre desses efeitos negativos numa escala nunca antes vista.

O estudo ainda aponta que a ação humana é responsável pela alteração de nada menos do que 77% da área dos ambientes terrestres e 87% dos marinhos. Essa interferência está relacionada à perda de 83% da biomassa de mamíferos e metade disso das plantas. Seres humanos e gado representam hoje cerca de 96% de toda a biomassa animal no planeta.