Título: A enorme deficiência do nosso ensino
Autor: Antonio Ermírio de Moraes*
Fonte: Jornal do Brasil, 12/06/2005, Outras Opiniões, p. A11

Uma nova publicação do Ipea (''Radar Social'', 2005) confirma o precário quadro da educação brasileira. Apesar de 97% das crianças entre 7 e 14 anos estarem na escola, os problemas são preocupantes.

Em pleno século 21, cerca de 15 milhões de brasileiros são analfabetos. Isso é um absurdo. Ademais, as taxas de reprovação continuam muito altas: menos de 70% dos que se matriculam no ensino fundamental chegam à 8ª série. Menos de 41% dos adolescentes de 15 a 17 anos estão na série adequada à sua idade - os demais estão atrasados. Entre as crianças até 6 anos, apenas 37% vão a escolas públicas ou privadas.

Quanto à qualidade do ensino, o quadro é desalentador. Quando se examina o domínio da linguagem, cerca de 55% dos alunos da 4ª série estão nos estágios crítico ou muito crítico por apresentarem deficiências de leitura e interpretação de textos simples. No campo da matemática, o problema é mais grave: 57% dos alunos da 8ª série e, pasmem, 69% dos alunos da 3ª série do ensino médio também estão com enormes deficiências em função da enfermidade curricular.

Educação é qualidade. Educação sem qualidade não é educação é ''enganação''. Nesse sentido, merece aplauso o programa ''São Paulo é uma Escola'', recém-lançado pela prefeitura da capital. As crianças estão ficando na escola em tempo integral. Pela manhã, têm aulas e à tarde fazem as lições de casa com a ajuda de professores. Trata-se de uma sábia estratégia, pois se o quadro educacional é tão precário, é evidente que nele estão incluídos os pais dessas crianças que, mesmo querendo, não têm condições de ajudá-las nos deveres de casa.

Além dessa importante complementaridade, o novo programa vai cuidar da saúde e da alimentação das crianças e, ademais, colocá-las fazendo teatro, esportes, ouvindo música, visitantes museus e centros culturais.

A capital de São Paulo possui uma rede de equipamentos públicos bastante satisfatória no campo educacional. Mas a educação não se resume em prédios. A peça fundamental é o professor bem preparado e estimulado para atender as crianças. Em boa hora o projeto da prefeitura colocou professores nos dois períodos e, em termos de equipamentos, fará convênios com igrejas, fundações, empresas, sindicatos e organizações não governamentais não só para usar as facilidades mas, sobretudo, para envolvê-las na mesma cruzada.

O ''São Paulo é uma Escola'' já funciona nos 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs) e entrou em fase experimental em escolas tradicionais da rede municipal. Até o fim do ano a prefeitura pretende atender cerca de 100 mil alunos e, oxalá, dentro em breve, consiga atender as 480 mil crianças do ensino fundamental.

Esse é o tipo de esforço que merece o nosso aplauso e o apoio de toda a sociedade. Numa situação tão dramática como a brasileira, não basta pagar impostos. É preciso cobrar a utilização inteligente desses recursos e ajudar em tudo o que for possível para formarmos uma geração bem educada para progredir na vida e alavancar o desenvolvimento deste país.

*Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta página.