Título: Furlan prevê queda das exportações
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2004, Economia, p. A-19
Ministro endurece discurso contra barreira argentina que impede entrada de eletrodomésticos no país
As exportações brasileiras iniciaram uma trajetória de desaceleração e acumulam em outubro uma retração de 15% no volume dos embarques, em comparação a setembro. A informação é do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que antecipou ontem a previsão de novos recuos em novembro e em dezembro - influência da entressafra agrícola e da maior demanda no mercado interno. Os setores mais afetados são os de produtos siderúrgicos e as commodities. - Normalmente, o fim do ano é um período de queda das exportações. Já temos sinais visíveis de redução - disse Furlan.
Nos últimos 12 meses, a receita com as exportações soma US$ 91 bilhões, próxima, portanto, da meta de US$ 94 bilhões estabelecida para 2004.
Apesar do recuo do volume das exportações de commodities, Furlan comemora a venda externa de produtos de maior valor agregado.
- A cadeia produtiva é longa e estamos exportando produtos com base na siderurgia, como automóveis, máquinas e equipamentos e material de construção - enumerou.
Quanto às barreiras impostas pela Argentina aos produtos da linha branca brasileiros, o ministro disse que o Brasil não aceitará abrir mão do mercado argentino.
- Se é para abrir mão para terceiros, não tem jogo. E não ter jogo significa que podemos usar ferramentas equivalentes.
Em seguida, Furlan adotou um tom mais ponderado e disse que sua declaração não significa ameaça de retaliação. Em novembro haverá uma nova reunião entre autoridades dos governos dos dois países.
- Vamos nos reunir e entender por que em setembro não foi exportada nenhuma máquina de lavar, se já se passaram 60 dias do processo de licenças não-automáticas. Não é razoável que essa situação continue ad infinitum - lamentou.
Na última terça-feira, Furlan e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, conversaram por telefone com o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, quando pediram explicações sobre as barreiras à linha branca fabricada no Brasil, ao mesmo tempo que os importadores argentinos abriram canais de compra com mexicanos e chilenos.
Sobre o fracasso das negociações entre Mercosul e União Européia para um acordo comercial, Furlan não considerou as negociações invalidadas.
- Todo acordo e negociação tem que ter um saldo positivo para cada lado. O setor privado está engajado e há interesse político. O que precisamos é suar mais a camisa - avaliou.
Ele informou que até o fim do ano será agendada uma reunião técnica sobre o tema e, no primeiro trimestre de 2005, uma reunião ministerial. Na ocasião, será analisada a viabilidade ou não do acordo comercial entre os dois blocos.