Título: Cai o rei de ouros
Autor: Sergio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 06/07/2005, País, p. A3

Delúbio Soares sai. José Genoino fica. Foram estas as principais decisões tomadas ontem pela Executiva Nacional do PT, numa tensa reunião que durou quase três horas e meia na sede do partido, na capital paulista. Com esta decisão, a cúpula do partido de Luiz Inácio Lula da Silva tenta mostrar que iniciou um processo de autocrítica, pelo qual os culpados serão punidos. Foi criada inclusive uma comissão interna para acompanhar as investigações, que estão sendo feitas pela CPI dos Correios.

Além disso, ficou mais claro o movimento do partido para proteger José Genoino. No encontro de ontem, ele chegou a dizer que seu cargo estava à disposição. Mas esta idéia foi defendida por apenas um dos 18 integrantes da Executiva que estavam presentes. Os petistas dizem ainda que é preciso uma reformulação interna profunda, pois do contrário a crise atual levará à derrota na eleição de 2006.

Já no próximo final de semana, o Diretório Nacional substituirá os nomes de Delúbio e Pereira, além de começar a discutir a renovação de seu comando. E baterá o martelo sobre a permanência (ou não) de Genoino na presidência do partido. Um problema considerado crucial a ser debatido é o financiamento de campanhas eleitorais. Por isso, o PT jura que discutirá com seriedade uma saída para a próxima eleição.

- Esse modelo é péssimo. E o PT não pode esperar que a legislação seja mudada para tomar uma atitude no sentido de moralizar os financiamentos - diz Valter Pomar, um dos vice-presidentes do partido e candidato à cadeira de Genoino.

Enquanto esta estratégia não fica mais clara, o PT trata de cortar na própria carne como Lula declarou várias vezes. A pressão, em especial sobre Delúbio Soares, era enorme e sua queda vista como certa nos últimos dois meses. Demorou, mas veio. Ele é a segunda vítima no comando petista, depois do escândalo do mensalão e da péssima repercussão do mal explicado empréstimo de R$ 2,4 milhões, que os petistas tomaram no BMG em 2003, no qual o publicitário Marcos Valério é fiador.

Anteontem, Sílvio Pereira, secretário-geral petista também anunciara sua saída. Na reunião de ontem, após Genoino abrir o debate, Pereira fez uma pequena defesa de si próprio. Renovou que vai colocar à disposição da CPI seu sigilo fiscal, bancário e telefônico. Em seguida, Delúbio discurso muito parecido e isentou Genoino da culpa pelo empréstimo no BMG.

- Ele reconheceu que Genoino foi induzido ao erro - contou um dos presentes ao encontro.

O cordão de isolamento que se viu em torno de Genoino ontem, entretanto, difere muito do cenário que vinha sendo desenhado nos últimos dias. Vários integrantes do partido e do governo queriam o seu afastamento da presidência. É o caso do professor e fundador do PT, Plínio de Arruda Sampaio.

- Quem estiver envolvido nas denúncias deveria ser afastado - afirma Arruda Sampaio.

Mas o discurso interno no PT, predominante ontem, é de que mais prudente uma composição entre as tendências da legenda para que o processo eleitoral, marcado para 18 de setembro, seja levado adiante sem sobressaltos. Por outro lado, os petistas entendem que Genoino tem uma biografia a ser protegida, devido a sua atuação tanto na luta contra a ditadura quanto na construção do partido, junto com Lula.

- Seria muito ruim para todos nós que ele deixasse o comando do PT agora - disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que também é candidata a presidir o partido.

Ontem, até deputados petistas mais à esquerda como Ivan Valente (SP) defenderam ontem a proposta de que Genoino permaneça até a eleição de setembro. Mesmo que as discussões na transição sejam incipientes, despontou ontem um forte questionamento à política de alianças, montada pelo governo do presidente Lula.

- Foi um desastre. E deu no que deu - crava Valter Pomar.

O mensalão pode derrubar mais integrantes da executiva nacional do PT. Depois do afastamento do tesoureiro Delúbio Soares, e do secretário-geral Silvio Pereira, a pressão recai sobre o secretário de comunicações, Marcelo Sereno - citado por Roberto Jefferson.