Título: Marcos Valério diz que Dirceu deu aval para empréstimos
Autor: Hugo Marques e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 19/07/2005, País, p. A4

No depoimento que prestou ao Ministério Público Federal, Marcos Valério Fernandes de Souza reconheceu ter dado dinheiro aos deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Carlos Rodrigues, o ex ''bispo'' Rodrigues (PL-RJ). Segundo parlamentares que tiveram acesso ao depoimento, Valério comprometeu o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, que teria dado o aval para os empréstimos.

O depoimento de Valério joga PTB e PL no mesmo rol de acusações. Durante as sessões no Conselho de Ética e na CPI dos Correios, Roberto Jefferson havia incluído Rodrigues no esquema dos parlamentares que receberiam o mensalão. Já os acordos firmados pelo PT com o PTB estariam ligados às campanhas eleitorais de 2004. Além disso, é mais um passo na estratégia dos envolvidos de transformar o escândalo em crime eleitoral.

Valério contou que deu dinheiro aos dois a título de apoio para campanha. Ele perguntou ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que garantias teria para receber o dinheiro. Segundo Valério, o tesoureiro citou os nomes de Dirceu e do ex-secretário do PT, Sílvio Pereira, como garantias.

- O Dirceu e o Sílvio estão por dentro da operação - teria respondido Delúbio.

Os parlamentares que tiveram acesso ao depoimento confirmaram que Valério disse ter contraído cinco empréstimos: três em 2003 - um de R$ 12 milhões, outro de R$ 9,975 milhões e outro de R$ 18,299 milhões. Em 2004, foram dois empréstimos -- um de R$ 10 milhões e outro de R$ 15,720 milhões, no total de R$ 93 milhões, em valores corrigidos.

Para os parlamentares da CPI dos Correios, o depoimento de Valério é mais uma prova de sonegação de informações junto à Justiça Eleitoral. Confirma ainda o depoimento de Roberto Jefferson, que revelou ter pego R$ 4 milhões do PT sem declarar à Justiça Eleitoral, crime que deve levar à cassação de seu mandato.

No depoimento, Valério apontou 12 pessoas autorizadas a pegar o dinheiro na boca do caixa do Banco Rural. Segundo parlamentares que leram o depoimento, Valério citou o nome de Anita Leocádia, assessora do líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA). Outro nome citado é o do presidente do PT do Distrito Federal, uma referência a Vilmar Lacerda.

Os empréstimos de Valério seriam corrigidos com juros de 1% ao mês. Um dos recursos utilizados por ele era dar como garantia os contratos de suas empresas junto a estatais.

Alguns parlamentares vão requisitar à CPI dos Correios a lista de investimentos dos fundos de pensão durante o governo do PT. Segundo eles, este rastreamento pode identificar operações que tenham beneficiado os bancos Rural e BMG. O Congresso recebeu uma lista de servidores da Presidência da República que possuem concessão de suprimento de fundos, através dos cartões corporativos Visa. Um deles, Clever P. Fialho, teria gasto R$ 1,2 milhão em 2003 e outro R$ 1 milhão em 2004. Mauro A. da Silva teria gasto R$ 663 mil em 2003 e R$ 454 mil em 2004.

A assessoria de imprensa do deputado José Dirceu afirmou que ele não vai se pronunciar enquanto não tiver conhecimento do completo teor do depoimento de Valério. Carlos Rodrigues e Roberto Jefferson não foram localizados.