Título: Mistério nas profundezas
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/08/2005, Internacional, p. A12

As remotas e geladas profundezas do Oceano Ártico não são tão inóspitas quanto podem parecer. O Projeto Censo de Vida Marinha realizou uma expedição de 30 dias que revelou novas espécies de organismos e animais marítimos. O que, ao mesmo tempo, agradou e surpreendeu os cientistas.

- Não esperávamos tanta abundância e diversidade de vida nesse ambiente. Até mesmo a 3 mil metros encontramos animais no fundo, pepinos-do-mar e todos os tipos de águas-vivas e crustáceos - afirmou o cientista Rolf Gradinger, da Universidade do Alasca, coordenador do empreendimento.

A equipe da universidade, através de robôs submarinos e de um sonar, exploraram uma área a 3.800 m de profundidade, abaixo da costa do Ártico canadense. Região onde temia-se que espécimes estivessem correndo risco por causa do aquecimento global.

- Algumas são completamente desconhecidas para a ciência, nunca haviam sido documentadas em nenhuma lugar do planeta- revelou Gradinger. São um tipo novo de água-viva e três tipos de minhoca do mar.

Também espantou os pesquisadores a grande quantidade de bacalhaus, lulas, pulgas-do-mar jamais vistos em um ambiente coberto de gelo.

Um total de 24 cientistas dos Estados Unidos, Canadá, Rússia e China realizaram o trabalho a bordo do navio US-CGC Healy, da Guarda Costeira americana. A missão, batizada de Oceano Escondido , faz parte de um projeto maior, o Censo da Vida Marinha. Dele fazem parte 72 países, tendo um custo total de US$ 1 bilhão. O objetivo é realizar uma análise detalhada da biodiversidade dos oceanos.

Os dados, que ainda vão demorar um tempo para serem analisados por completo, foram coletados em 14 pontos em torno do Pólo Norte, nos Mares Chukchi e Beaufort, e na Bacia do Canadá.

Segundo os pesquisadores, as informações vão ajudar a medir o impacto das mudanças climáticas, colaborando com a verificação do grau de redução das calotas polares e dos danos causado pela exploração energética, pesca e navegação, no meio ambiente. Estudos americanos afirmam que o Ártico pode ter todo o gelo derretido até o ano de 2100, por causa do aquecimento global provocado pela emissões de gás carbônico de carros e fábricas.

- É uma referência, já que esperamos que nos próximos dez, vinte ou trinta anos esse tipo de pesquisa seja repetido para verificar se alguma mudança ocorreu na variedade ou abundância da vida animal - observou Gradinger.

Expedições também serão realizadas no Oceano Antártico, como a organizada pela Divisão da Antártica Australiana. Esta acontecerá de dezembro de 2007 até março de 2008, com 200 cientista de 30 países.