Título: Empresários querem ajuste fiscal
Autor: Dimalice Nunes e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/08/2005, País, p. A2

Aumento da economia realizada pelo setor público para pagamento de juros da dívida e mais investimentos em infra-estrutura são duas das propostas constantes da agenda mínima que o setor produtivo entregou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo é blindar a economia e auxiliar a chamada governabilidade. Participaram da reunião, no Palácio do Planalto, os presidentes da Ação Empresarial e das confederações nacionais da indústria (CNI), agricultura (CNA), transporte (CNT), comércio (CNC) e instituições financeiras (CNF). Segundo o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, Lula aprovou a agenda mínima, considerando-a ''pertinente e procedente''. O documento contém mais de 20 itens divididos em seis temas, que estão parados no Executivo ou no Legislativo - reforma política, reforma do Estado e de gestão, ambiente regulatório, infra-estrutura, sistema tributário e inovação. Os empresários avaliam que a reforma política não pode ser amplamente discutida agora, mas defendem ajustes que, pelo menos, reduzam custos do processo eleitoral.

Os representantes do setor produtivo defenderam o aumento da meta de superávit primário, fixada em 4,25% do Produto Interno Bruto. Eles não sugeriram um novo percentual. Para Monteiro Neto, a âncora fiscal tem de ser aprofundada para diminuir gastos com custeio, sem afetar investimentos. Sobre o câmbio, o presidente da CNI disse que o assunto foi mencionado rapidamente, mas o governo não mexerá na política cambial.

- O governo ainda comemora o resultado da balança comercial.

Após o encontro, Monteiro Neto declarou que uma possível redução da taxa básica de juros não pode ser feita de forma voluntarista. Na quinta-feira, o presidente Lula teria dito a interlocutores que pediria aos responsáveis pela economia que baixassem os juros.

Questionado sobre qual foi o tom da conversa, o presidente da CNI afirmou que Lula se mostrou bastante sereno. Nas últimas aparições públicas, o presidente fez discursos eloqüentes em tom de desabafo. Segundo Monteiro Neto, Lula mantém a posição de defesa das investigações de corrupção na administração federal e manutenção da governabilidade:

- Não se blinda a economia com medidas artificiais, nem com discurso, nem com atos de vontade. Você blinda a economia se cada poder continuar a cumprir minimamente o seu papel. Queremos que o governo governe e que o Congresso legisle, independe do processo político.

Segundo os participantes do encontro, porém, a crise provocada pela sucessão de denúncias de corrupção ocupou apenas pequena parte das cerca de três horas de debate. Escalado para relatar as conversas, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) disse nem sequer se lembrar da menção de Lula à crise.

- O presidente realmente comentou. Ele não está preocupado com a governabilidade, mas disse que a crise está no Congresso - afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Lula, segundo o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), falou rapidamente da crise, mas reafirmou a confiança na economia e disse que o governo não será alcançado. Lula disse ainda que a economia ''é um patrimônio a ser preservado''. A maior parte do encontro foi usada numa exposição de indicadores feita por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, com ajuda de gráficos. O objetivo foi demonstrar que a economia do país está menos vulnerável a turbulências, graças, para citar os exemplos principais, às contas fiscais e das transações com o exterior. Na entrevista após a reunião, Palocci não fez comentários sobre os pleitos apresentados pelos empresários.

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), também recebeu a agenda mínima das mãos dos empresários e apoiou a iniciativa dos líderes do setor privado. Para Severino, a mobilização dos empresários é prova de que há consciência de que o país não pode parar.