O Globo, n. 32783, 10/05/2023. Política, p. 7

Ministros de Lula levam chá de cadeira de Pacheco no Senado

Camila Turtelli
Gabriel Sabóia
Jeniffer Gularte


Os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Jader Filho (Cidades) perderam a viagem ontem ao tentarem se reunir com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar da votação na Casa do decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que alterou o marco do saneamento, regramento já aprovado pelo Congresso.

Os ministros chegaram ao Senado pouco antes das 16h. Pacheco estava em seu gabinete, recebendo a visita do deputado português Duarte Pacheco, presidente da União Interparlamentar (UIP), organização internacional de parlamentos de Estados soberanos. O senador não recebeu os auxiliares de Lula.

Ao chegarem à presidência do Senado, os ministros aguardaram o encontro em uma sala ao lado. Pacheco, então, disse que precisava abrir a sessão do plenário e não poderia recebê-los. O grupo seguiu para o gabinete da liderança do governo para se reunir com líderes da base.

O chá de cadeira dado por Pacheco foi encarado como um sinal de insatisfação. O senador ficou sabendo na segunda-feira, por meio da imprensa, das indicações do governo a cargos no Banco Central. Pacheco não teria gostado de não ter sido consultado sobre os nomes. Segundo interlocutores, o senador sentiu que houve uma quebra de liturgia no processo e quis deixar isso claro. As indicações precisam ser votadas pelo Senado. Ainda segundo interlocutores, a visita dos ministros não tinha sido avisada com a antecedência.

Na semana passada, a aprovação de um projeto que derrubou partes do decreto na Câmara marcou a primeiras derrota do governo Lula no Congresso. Essas ações vieram ainda acompanhadas de críticas à falta de articulação do Executivo com o Legislativo. Na última segunda-feira, Pacheco disse que a “tendência” do Senado é aprovar a derrubada de partes do decreto, assim como na Câmara.

O presidente Lula definiu no início desta semana, em reunião no Planalto, a estratégia para evitar nova derrota envolvendo o decreto sobre o marco do saneamento no Senado, após o revés na Câmara.

Segundo Padilha, o líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), e os ministros Rui Costa e Jader Filho ficaram com a missão de convencer senadores sobre a importância da medida, um movimento que, na avaliação de aliados, não foi feito na Câmara. A Casa derrubou pontos do decreto por 295 a 136.

Padilha ressaltou a importância de detalhar pontos do projeto aos parlamentares e afirmou ter ouvido relatos de senadores que não entenderam pontos da proposta. A visita de Padilha ao Congresso ocorreu poucas horas depois de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ter se manifestado a favor da revogação do decreto, durante participação num evento em Nova Iorque.

Após a reunião dos ministros com lideranças da base no Senado, o líder da Maioria na Casa, Renan Calheiros (MDB), e o líder do PSD, Otto Alencar, indicaram que deverão defender a manutenção do decreto. Os ministros devem se reunir hoje com a oposição.