Título: Os meios denunciam os fins
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, País, p. A2

Abandonar o PT não está nos planos de um nome histórico do partido, respeitado por sua correção e ética. O senador Eduardo Suplicy se define como não pertencente a qualquer tendência, mas sim como homem ligado visceralmente à história da legenda. - Eu sou é do PT, e não de uma tendência. Quando tomei a decisão de participar do partido, foi uma decisão de vida. Se erros foram cometidos, minha responsabilidade é ajudar a superá-los e corrigi-los.

A correção nas atitudes tem gerado alguns dissabores, como conta o senador:

- Quando tomei a decisão de assinar o requerimento da CPI, a coordenação do campo majoritário, por intermédio do Delúbio Soares, me informou que tinha tirado o meu nome da chapa. Até perguntei se gostariam de ouvir as minhas razões e ouvi que aquele era o último prazo. O que ia dizer é que, assinando o requerimento da CPI, estava tendo uma atitude em defesa das origens e dos anseios principais do PT.

Suplicy trabalha por uma composição entre as correntes que apresentaram chapas, em defesa de um acordo que represente o consenso e uma nova era de diálogo interno, em busca da ''renovação esperada''.

-O ideal seria uma composição entre pessoas como o Genro, o Plínio de Arruda Sampaio, o Raul Pont e a Maria do Rosário, para que chegássemos a um consenso.

A visão do senador Cristovam Buarque é distinta.

- Eles já fizeram essa burrice toda e não vão repeti-la. O problema central do PT hoje não é de métodos e sim de objetivos. O partido quis manter o poder, usando esses métodos que estão sendo condenados. Caiu na vida, ficou igual aos outros. Mas quais são os fins do PT? Quais os seus objetivos? Qual a transformação que o partido deseja para o país? Onde estão a reforma agrária para valer, a revolução na educação, o programa de distribuição de renda a longo prazo? - indaga o senador.

Na opinião de Cristovam Buarque, o PT não disse ao que veio, não mostrou a sua diferença para o eleitor.

- As esquerdas em geral não estão apresentando propostas para o país em áreas como educação e reforma agrária, por exemplo.

Os críticos de esquerda vêm assentando as baterias tendo como alvo quase único a política econômica, ''mas sem dizer qual a alternativa'' - critica.

- Defendo a atual política econômica porque até agora ninguém apresentou uma proposta que se mostre mais viável.

A prioridade nacional, segundo o senador, é trabalhar na aglutinação de um movimento integrado por todos os que acreditam serem necessárias mudanças profundas no país.

- Não é uma simples evolução, são mudanças mesmo, por meio de políticas sociais. No Brasil, nada que de fato mudou foi feito por partidos e sim por movimentos sociais. Quero ajudar por essa retomada da esperança de que é possível fazer um país diferente, mais justo. Não poderei assumir esse papel se ficar no PT, que se transformou num partido conservador, nas idéias e nas características de sua máquina interna. O partido não fez a sua auto-revolução. (I.T.)