Título: O P-Sol nasce com 8 tendências
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, País, p. A2

A presença deles ainda é tímida. Nada que lembre a profusão de bandeiras vermelhas que ocuparam os campi estudantis até 2002, quando o PT passava por seu auge, mas as universidades começam a receber grupos de estudantes que, em pequenos broches, alguns adesivos e muito discurso, apresentam ao Rio o Partido Socialismo e Liberdade, o P-Sol. Em sua maioria herdeiros do PT, os jovens que sonham com uma sociedade mais justa começam a abandonar a estrela vermelha e a adotar o sol amarelo como símbolo.

Formado em sua maioria por ex-militantes do PT, o P-Sol tem seguido o exemplo do partido de Lula na hora de se estruturar formalmente. Dividido em tendências - e já são oito formalmente definidas e um sem número de independentes - o novo partido nasce na sombra de um racha, que levou o PT à maior crise de sua história. Militantes consideram positiva, no entanto, essa pluralidade. O atual presidente do PT, Tarso Genro, é cético quanto ao futuro da legenda:

- O P-Sol está começando exatamente como o PT , e corre o risco de terminar da mesma forma.

Considerado um dos templos vermelhos do Rio, o Instituto de Filosofia e Ciencias Sociais da UFRJ, o IFCS, já tem, naturalmente, seu núcleo do partido. Em sua maioria estudantes de História e Ciências Sociais, o grupo vem se reunindo semanalmente para discutir política. Na mochila, sempre paramentada com adesivos ou broches, carregam material informativo: jornais como os argentinos Alternativa Socialista e El Socialista, e o venezuelano Opción Socialista, e obras da sociologia como A formação da classe operária inglesa, de E.P. Thompson, e Maquiavel, a política e o estado moderno, de Antonio Gramsci. Apesar de o partido ser a última novidade política do país, o discurso adotado pelos militantes é o do internacionalismo socialista.

- O internacionalismo é uma velha bandeira do marxismo: o povo e os trabalhadores são oprimidos independentemente da nacionalidade - discursa Márcio Malta, 22 anos, mestrando em Ciência Política.

- A burguesia é internacional, a classe trabalhadora é internacional. Não adianta ficarmos nos prendendo ao nacionalismo - completa Maria Kallás, 22 anos, estudante de Ciências Sociais.

Com a candidata à Presidência em 2006, a senadora Heloísa Helena, já escolhida, Maria manda anotar: ''Não há democracia no capitalismo''. Luiz Guilherme Santos, 24 anos, estudante de Ciências Sociais, é ainda mais radical:

- A democracia representativa é a democracia burguesa, que mantém uma classe no poder. Os caras que se elegem hoje são oriundos da burguesia, não têm base social. Lula é um traidor, era o único que tinha uma base social, mas foi cooptado pelo neoliberalismo - ataca.

Rafael Araújo, de 23 anos, estudante de História, acredita que o momento para o surgimento do partido é oportuno.

- Vivemos um momento de refluxo em que as massas estão negando todo esse processo de corrupção, de falência do sistema político representativo do país. Então, tentamos trazer de novo a discussão política, mostrando que há uma alternativa coerente, de esquerda, que quer transformar o país.

Enquanto o socialismo não vem, eles pensam nos meios de participação popular na baleada democracia brasileira.

- Tem de ter plebiscito para decidir o que fazer com os parlamentares corruptos- defende a estudante de História Karine Cordeiro, 21 anos.