Correio Braziliense, n. 21536, 04/03/2022. Negócios, p. 9

Pobreza assombra brasileiro

Maria Eduarda Angeli*


Passados dois anos de pandemia, os brasileiros pensam como nunca na saúde do bolso. Segundo um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o desemprego e a inflação estão à frente de saúde, educação e segurança na lista de preocupações da população.

Para 45% dos entrevistados na pesquisa Brasileiros e Pós-Pandemia, a pobreza é fonte de maior apreensão e precisa ser tratada como a prioridade do governo. Ainda segundo o levantamento, 31% defendem o aumento do salário mínimo e 28% desejam a queda da inflação, que fechou 2021 na casa dos 10%. No geral, o custo de vida e a perda do poder de compra também tiraram o sono dos brasileiros. Tiveram mais menções do que saúde, educação e segurança.

O combate à corrupção e a geração de empregos também tiveram destaque. São o motivo de preocupação mais relevante para 23% e 21% dos participantes, respectivamente. Em seguida, aparecem educação (20%), combate à pandemia (18%), serviços de saúde (12%) e segurança e combate à criminalidade (5%).

Os maiores problemas do país, conforme avaliação dos respondentes do estudo, são desemprego (41%), custo de vida e inflação (40%) e corrupção (30%). Há mudanças nas opiniões, no entanto, à medida que variam escolaridade, renda e região do Brasil.

Mário Sérgio Telles, gerente-executivo de Economia da CNI, afirma que, em outras pesquisas do gênero, a preocupação com a qualidade dos serviços de saúde ocupava o topo da lista entre 2014 e 2018. Em 2019, ficou em segundo lugar.

"Ocorre que o brasileiro comum percebe que a economia está andando de lado. Ele sente os efeitos da inflação no supermercado e nas contas de energia e transporte. O número de pessoas trabalhando está aumentando, mas em ritmo insuficiente para atender a quantidade de pessoas procurando trabalho, o que dá a sensação de que o desemprego não recua", detalha o especialista.

Na visão de Felipe Queiroz, economista e pesquisador da Unicamp, a pesquisa atesta "uma dura realidade vivida pelos brasileiros, que é a deterioração da qualidade de vida". De acordo com o acadêmico, desde o início da crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19, a condição de vida de boa parte da população do país piorou — tanto em função da inflação, que encareceu os produtos da cesta básica, quanto da elevação na taxa de desemprego.

"A atuação do governo federal na pandemia, tanto no quesito saúde quanto na manutenção da atividade econômica, foi desastrosa, e o efeito disso nós estamos observando no atual contexto", avaliou o economista. "O desemprego está em alta, o poder de compra das famílias caiu de modo vertiginoso. Estamos, mês após mês, vendo a inflação aumentar, a taxa de juros subir, o nível de atividade da economia deteriorar. Tudo isso afeta a percepção da população sobre quais são as prioridades", alegou.

*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza