O Globo, n. 32685, 01/02/2023. Política, p. 4

Operação pró-Pacheco

Jeniffer Gularte
Lauriberto Pompeu


O Palácio do Planalto e senadores de partidos da base aliada passaram o dia negociando cargos do Executivo na véspera da eleição à presidência do Senado, que será disputada hoje pelo atual ocupante da cadeira, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Rogério Marinho (PLRN), que foi ministro do expresidente Jair Bolsonaro. As conversas para liberação de espaços se intensificaram depois que parlamentares de legendas que compõem o governo, sobretudo União Brasil e PSD, anunciaram apoio ao candidato bolsonarista.

O senador Efraim Filho (União-PB), que se diz indeciso entre Marinho e Pacheco, conseguiu emplacar o aliado Jackson Silva Henrique na superintendência dos Correios na Paraíba. Embora a nomeação ainda não tenha sido formalizada, o próprio senador admitiu que acertou a indicação com o governo.

— O rapaz é servidor público federal, de carreira dos Correios.

Foi indicação técnica, não política — declarou o parlamentar, negando a vinculação com a disputa pelo Senado.

Ex-integrante da base de Bolsonaro, Efraim Filho diz que ainda não decidiu em quem votará. O GLOBO apurou que na contabilidade feita pelo União Brasil ele aparece como eleitor de Pacheco.

Alguns parlamentares têm aproveitado a corrida pela presidência do Senado, cara ao Palácio do Planalto, para cobrar a formalização de indicações que já vinham sendo negociadas. O senador Irajá Abreu (PSD-TO) fez chegar aos interlocutores de Lula que espera a nomeação de um afilhado político para um posto de destaque na superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Tocantins. O entorno do petista sinalizou que a nomeação sairá nos próximos dias. Assim como Efraim Filho, Irajá é tratado em sua própria legenda como um apoiador de Pacheco. Procurado, ele não respondeu.

Tanto o União Brasil quanto o PSD indicaram três ministros no atual governo. Mesmo assim, nenhuma das duas legendas conseguiu garantir a adesão a Pacheco esperada por Lula. Na segunda-feira, o senador Otto Alencar (PSDBA), fez uma investida para conter defecções. Até a noite de ontem, ele estimava que 12 dos 15 senadores do PSD estão fechados com Pacheco. O líder da sigla, Nelsinho Trad (MS), e outros dois senadores da legenda, Lucas Barreto (AP) e Samuel Araújo (RO), anunciaram apoio ao candidato bolsonarista.

No União Brasil, o trabalho em favor de Pacheco vem sendo capitaneado pelo líder da legenda, Davi Alcolumbre (AP). Até agora, dois integrantes da bancada afirmaram publicamente que votarão em Marinho: Sergio Moro (PR) e Alan Rick (AC). A expectativa de Alcolumbre, entretanto, é que os outros sete senadores da sigla estejam empenhados pela reeleição de Pacheco.

Internamente, a condução de Alcolumbre tem gerado críticas. Nomes importantes do União avisaram a personagens ligados a Lula que o correligionário centraliza excessivamente as decisões. Para o Planalto, no entanto, esta é uma tensão que cabe ao União resolver. Na condição de anonimato, contudo, petistas admitem que a forma como Alcolumbre articula pode prejudicar a caminhada de Pacheco.

Bolsonaro chegou a telefonar para aliados e tem agido para virar votos a favor de Marinho. Ontem, em discurso para apoiadores nos Estados Unidos, o ex-presidente afirmou que a eleição para a presidência do Senado é “um dia importantíssimo” para seu grupo político. E que uma eventual vitória de Marinho faria com que sua “liberdade” volte a “ganhar fôlego”:

— Amanhã (hoje) é um dia importantíssimo para todos os brasileiros, (com a) eleição da Mesa do Senado Federal, que representa para nós, de acordo com a chapa vencedora, a volta à normalidade, pacificação, nossa liberdade volta a ganhar fôlego e podemos ter certa normalidade. (...) Pretendo voltar (ao Brasil) com uma Mesa Diretora do Senado diferente da que nós temos hoje.

No PSDB, os senadores decidiram não apoiar Pacheco. Izalci Lucas (DF) e Alessandro Vieira (SE) declararam voto em Marinho. Já Plínio Valério (AM) disse que vai apoiar Eduardo Girão (Podemos-CE), candidato que corre por fora.

“Política é reciprocidade”

A articulação junto à base vem sendo tocada pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Ele admite que há pedidos de liberação de cargos vindos de senadores que se dizem indecisos às vésperas da votação. Como O GLOBO mostrou ontem, ele afirmou que há casos em que parlamentares querem que as nomeações sejam aceleradas, “para ficar uma coisa mais certa”. Na outra ponta, congressistas reconhecem abertamente a ambição.

— Quem está na base do governo precisa ter mais espaço, ser acomodado em cargos no estado ou com projeção nacional. Isso é natural. Política se faz com reciprocidade — disse o senador Chico Rodrigues (RR), recém filiado ao PSB.

Até agora, na operação pela vitória de Pacheco, o núcleo duro petista tem se mostrado disposto a negociar nomeações que já estavam prometidas. O acompanhamento feito pelo Planalto indica que o senador mineiro deve ser reeleito. Caso haja mudança de cenário na reta final, e os aliados de Lula identifiquem que Marinho tende a surpreender, o governo pode ampliar o leque de ofertas e entregar alguns dos postos mais cobiçados por parlamentares. Nessa lista estão vagas no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), no Banco da Amazônia, assim como cadeiras de diretorias dos Correios e da Codevasf.

O Executivo tem aguardado o resultado da eleição das presidências do Senado e da Câmara, também prevista para hoje, para deslanchar a distribuição dos postos de segundo e terceiro escalões, inclusive na Esplanada dos Ministérios. A maioria dos ministros só pôde escolher ocupantes dos cargos de maior confiança de suas respectivas pastas, como secretário-executivo e chefe de gabinete. Outros passarão pelo crivo do Planalto.