Título: Cronologia
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sérgio Pardellas e Hugo Marqu
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2005, País, p. A2

24 de setembro de 2004 O Jornal do Brasil denuncia o mensalão com a manchete: ¿Planalto paga mesada a deputados.¿ 25 de setembro de 2004 O então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), determina a abertura de um processo na Corregedoria-Geral e na Procuradoria da Câmara para apurar a denúncia do mensalão. A sindicância, no entanto, dura apenas 10 minutos. Em nota, deputado Miro Teixeira nega que tivesse partido dele a denúncia sobre o caso. Ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo diz que ¿do ponto de vista do governo, o assunto está superado¿.

28 de outubro de 2004 Câmara dos Deputados ganha direito de resposta. Na carta, João Paulo Cunha diz ser falsa a informação de que o governo havia montado um esquema de distribuição de verba para aliados no Congresso. Promete entrar com uma ação de indenização por danos morais contra o JB e os autores da reportagem ¿ hoje ele confessa que sua mulher foi ao Banco Rural sacar R$ 50 mil. Uma semana antes, a procuradoria da Câmara havia ingressado com representação criminal na Procuradoria Geral da República.

14 de maio de 2005 A revista Veja denuncia esquema de corrupção nos Correios envolvendo o então chefe do departamento de Contratação e Administração de Material, Maurício Marinho. Ele aparece num vídeo recebendo propina e diz agir em nome do deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ). Foi nesse período que Lula disse que ¿assinaria um cheque em branco para Roberto Jefferson¿, seu aliado.

18 de maio de 2005 Oposição protocola pedido de abertura da CPI Mista dos Correios.

20 de maio de 2005 Veja publica nova denúncia, agora de pagamento de mesada de R$ 400 mil ao PTB pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

25 de maio de 2005 Apesar da tentativa do Planalto de retirar as assinaturas, CPI dos Correios é criada com apoio de 234 deputados e 22 senadores.

28 de maio de 2005 Sentindo-se isolado, Roberto Jefferson ameaça levar ao cadafalso junto com ele integrantes do PT.

6 de junho de 2005 Jefferson confirma a existência do mensalão, antecipada pelo JB, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Disse ter alertado o presidente Lula sobre a mesada. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo afirma que denúncia não atinge o governo. Miro Teixeira desmente o desmentido enviado ao JB em setembro de 2004. E acrescenta: Jefferson sabe mais sobre o mensalão do que contou.

7 de junho de 2005 Deputados propõem a criação da CPI do Mensalão. Lula demite o alto escalão dos Correios e IRB e, em discurso, diz que está disposto a ¿cortar na própria carne¿ e levar as investigações às últimas conseqüências.

8 de junho de 2005 Conselho de Ética instaura processo contra Roberto Jefferson por quebra de decoro e Lula admite saída do ministro José Dirceu da Casa Civil. O tesoureiro do PT Delúbio Soares se diz indignado com o que estão fazendo com ele e o seu partido.

12 de junho de 2005 Jefferson denuncia que verba para o mensalão vinha do caixa 2 de estatais.

14 de junho de 2005 No Conselho de Ética, Jefferson acusa os deputados Valdemar Costa Neto, Sandro Mabel e Bispo Rodrigues pelo PL, e Pedro Correia, José Janene e Pedro Henry, pelo PP, de distribuírem a mesada. E acrescenta que em breve todos ouvirão falar muito do publicitário ¿carequinha¿ Marcos Valério, considerado por ele um dos operadores do mensalão. Jefferson também aponta suas baterias contra o ainda ministro José Dirceu, celebrizando a frase: ¿Sai daí Zé, sai rápido¿.

16 de junho de 2005 Dirceu deixa a Casa Civil e retorna à planície prometendo lutar pelo governo e PT.

19 de junho de 2005 Ao JB, Jefferson acusa Dirceu de ser o mentor do mensalão. Diz que Miro Teixeira recuou da denúncia em 2004 porque temia sofrer o que ele, Jefferson, estava sofrendo.

21 de junho de 2005 A secretária Fernanda Karina Somaggio confirma que seu ex-patrão Marcos Valério Fernandes de Souza teria relações com o tesoureiro e com o secretário-geral do PT, Delúbio Soares e Silvio Pereira, e que Valério seria o distribuidor das malas de dinheiro.

23 de junho de 2005 José Dirceu depõe na Corregedoria e diz que soube da denúncia do mensalão pelo Jornal do Brasil. Admitiu conhecer Marcos Valério.

30 de junho de 2005 Lula afasta diretores de Furnas acusados por Jefferson.

2 de julho de 2005 Surge a revelação de que Marcos Valério avalizou um empréstimo de R$ 2,4 milhões ao PT junto ao banco BMG. O documento é subscrito pelo então presidente do PT, José Genoino, e pelo tesoureiro Delúbio Soares.

4 de julho de 2005 Silvinho Pereira, secretário-geral do PT, pede demissão.

5 de julho de 2005 O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, se afasta do cargo.

6 de julho de 2005 Marcos Valério confirma na CPI relação com petistas.

8 de julho de 2005 O assessor do irmão de Genoino, José Nobre (PT-CE), José Adalberto Vieira, é flagrado pela Polícia Federal com U$ 100 mil na cueca no Aeroporto de Congonhas em São Paulo.

9 de julho de 2005 Genoino deixa a presidência do PT, cedendo lugar ao ministro da Educação, Tarso Genro. Com apoio de Lula, demais integrantes da cúpula do PT são destituídos.

11 de julho de 2005 Polícia Federal faz apreensão de sete malas contendo R$ 10 milhões num avião da Igreja Universal que se preparava para deixar Brasília. Um dos tripulantes do jato era o deputado João Batista Ramos da Silva (PFL-SP).

12 de julho de 2005 Lula dá continuidade à reforma ministerial. Jaques Wagner assume coordenação política e Luiz Gushiken perde o status de ministro.

15 de julho de 2005 Delúbio confessa que operou caixa 2 e Valério que fez empréstimos em nome do PT.

18 de julho de 2005 Marcos Valério diz a Procuradoria-Geral da República que Dirceu e Delúbio tinham conhecimentos dos empréstimos nos Bancos Rural e BMG.

19 de julho de 2005 PT reconhece dívida de R$ 59 milhões com Rural, BMG e Banco do Brasil.

22 de julho de 2005 Silvio Pereira assume que aceitou de presente um luxuoso automóvel Land Rover de uma empresa que tinha contratos com a Petrobras. Nesse dia, pede a desfiliação do PT.

26 de julho de 2005 Mulher de Marcos Valério, Renilda Santiago diz à CPI que Dirceu participou de reuniões com diretores de BMG e Rural para negociar empréstimos ao PT. Documentos comprovam que esquema de Valério beneficiou campanha tucana do candidato ao governo de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, em 98

1 de agosto de 2005 Presidente do PL, Valdemar Costa Neto, renuncia para escapar de cassação, admitindo ter recebido recursos de caixa 2 do PT.

2 de agosto de 2005 Dirceu depõe no Conselho de Ética e descarta denúncia dizendo que lutará até o fim. Presente ao depoimento, Roberto Jefferson faz nova denúncia. Diz que Dirceu teria costurado reunião de representantes de PT e PTB com multinacional Portugal Telecom para acertar conta de campanha de R$ 20 milhões. Marcos Valério divulga lista de 12 sacadores do Banco Rural.

9 de agosto de 2005 Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), encaminha ao Conselho de Ética representação pedindo abertura de processo contra José Dirceu por quebra de decoro.

11 de agosto de 2005 Publicitário Duda Mendonça revela à CPI que abriu conta em Bahamas para receber R$ 10 milhões do PT referentes a dívidas de campanha em 2002. Petistas choram.

12 de agosto de 2005 O presidente Lula se diz traído, sem citar os nomes dos traidores. Afirma ainda que o governo e o PT devem desculpas à população.

19 de agosto de 2005 Ex-secretário de governo do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Rogério Buratti diz que empresa Leão e Leão pagava R$ 50 mil à prefeitura de Ribeirão Preto pela manutenção do contrato de coleta de lixo.

21 de agosto de 2005 Em entrevista para acalmar o mercado, Palocci rebate as denúncias. Argumentos são considerados convincentes e economia sai do transe.

23 de agosto de 2005 Costa Neto diz que Lula sabia do empréstimo ao PL através do caixa 2.

25 de agosto de 2005 Lula garante que não vai renunciar como Jânio Quadros, nem se matar como Getúlio Vargas e sim terá paciência como Juscelino Kubitschek.

31 de agosto de 2005 CPIs recomendam a cassação de 18 parlamentares. Relator conclui pela existência do esquema do mensalão.

2 de setembro de 2005 Reportagem de Veja revela que Severino Cavalcanti teria cobrado propina do empresário Sebastião Buani pela exploração do restaurante da Câmara.

3 de setembro de 2005 Buani diz que pagou R$ 40 mil a Severino para prorrogar o contrato. Aparece documento em que Severino autoriza prorrogação. Planalto ensaia defender Severino mas recua.

5 de setembro de 2005 Oposição pede afastamento de Severino

11 de setembro de 2005 Severino se diz vítima de preconceito por ser nordestino.

12 de setembro de 2005 Buani apresenta cópia de extrato bancário com saque de R$ 40 mil em abril de 2002, dia em que Severino teria autorizado prorrogação do contrato.

13 de setembro de 2005 Oposição protocola pedido de cassação de Severino

14 de setembro de 2005 Em sessão histórica, Câmara aprova cassação do deputado Roberto Jefferson. Buani apresenta cópia de cheque no valor de R$ 7,5 mil usado para pagar parcela da propina a Severino, endossado por secretária de Severino, Gabriela Kênia Martins.

20 de setembro de 2005 Severino renuncia ao cargo de presidente da Casa e ao mandato.