Título: PT local deixa explicações de lado
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, Brasília, p. D1

Integrantes da cúpula de Brasília limitam-se a dizer que pagaram contas de campanha do partido e evitam discriminar gasto

A cobrança a deputados petistas sobre as denúncias de recebimento de verbas irregulares nas últimas campanhas eleitorais por enquanto se resume no Congresso Nacional. No Distrito Federal, as denúncias parecem já esquecidas. No próximo sábado, dia 22, a Comissão de Sindicância do PT nacional deve apresentar relatório sobre todas as denúncias envolvendo membros do partido. Entre os nomes citados estão os de Vilmar Lacerda e Raimundo Júnior, ex-presidente e ex-vice-presidente do PT-DF, respectivamente. Os dois são acusados de sacar um total de R$ 605 mil das contas das empresas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. - Não tenho medo do que a Comissão de Sindicância vaidizer. Minha situação está clara. Fui o único que não negou ter feito os saques e apresentei comprovante de tudo o que gastei - defendeu-se Lacerda, acusado de ter sacado R$ 235 mil das contas da SMPB.

O correligionário Raimundo Júnior, acusado de ter sacado R$ 370 mil, também negou ter medo, mas recusou-se a dar explicações ao Jornal do Brasil:

- Já disse tudo isso, tá mais do que explicado - afirmou.

Lacerda afirma que se sente traído por algumas pessoas no partido, pois, ao pedir dinheiro para o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, não foi avisado sobre a procedência da verba.

- Se eu tivesse sido informado sobre a origem do dinheiro não sei se teria aceitado, talvez tivesse ficado com as dívidas do PT - disse o ex-presidente do partido.

Segundo Lacerda, o dinheiro recebido do Diretório Nacional do PT foi usado para pagar dívidas do partido em Brasília.

- Pagamos dívidas anteriores a minha gestão [referentes à campanha de 1998], dívidas dos programas de TV da campanha de 2002 e despesas correntes do partido - explicou.

Na época das denúncias, o partido resolveu abrir uma investigação sobre o caso. Após as averiguações, o partido optou por não instaurar uma comissão de ética, confome sugeriu a equipe de investigação. A comissão teria como finalidade o aprofundamento das apurações sobre as denúncias.

- Foi a chance que o PT teve de mostrar seus culpados à sociedade, mas os protegeu como cúmplices e, até agora, não tomou providência de nada. Tenho até saudade daquele tempo em que eles usavam carros de som potentes e participavam de manifestações - criticou João de Deus, deputado distrital (PP).

A posição adotada pelo partido diante de todas as denúncias teve como conseqüência a desfiliação de vários políticos e militantes. No DF, entre os dissidentes estão o senador Cristovam Buarque, que foi para o PDT, a deputada federal Maninha, atualmente filiada ao PSOL, e o ex-secretário geral do PT em Brasília Toninho Andrade, também do PSOL.

- Não foi só o que aconteceu em Brasília que me fez sair, mas as divergências das votações do PT no Congresso e a proteção aos culpados - explicou Andrade.

Força - Para o presidente eleito do PT em Brasília, deputado Chico Vigilante, as denúncias não enfraqueceram o partido no DF.

- A prova disso é que o comparecimento no PED [Processo de Eleição Direta]foi um dos mais expressivos. Os militantes mostraram que o partido está mais ativo do que nunca - argumentou o deputado, que toma posse no dia 26 de outubro.