Valor Econômico, n. 4958, 12/03/2020. Empresas, p. B4

Escolas de negócios brasileiras começam a reagir

Barbara Bigarelli 


Escola de negócios localizada em São Paulo, a Saint Paul cancelou três módulos internacionais de seus programas executivos em Tel Aviv e Berlim, que ocorreriam em abril, devido à evolução do coronavírus no mundo. A medida, que afeta diretamente 100 estudantes, foi tomada “para promover segurança aos alunos, famílias e seus colaboradores”.

A escola também está oferecendo transmissão ao vivo para alunos que estão em quarentena e abono de faltas a cerca de dez pessoas que viajaram recentemente ao exterior. Uma masterclass que seria dada por professores da Dinamarca também não irá ser realizada. Na FIA Business School, o diretor Isak Kruglianskas montou um grupo de gestão de crise para definir ações em diferentes cenários que poderão incluir até a realização de todas as atividades on-line e o trabalho em home office.

O professor Maurício Jucá de Queiroz diz que a escola está preparada, em termos de estrutura, recursos e ferramentas, para esse cenário de “última instância”, por já oferecer 12 pós-graduações e MBA 100% on-line. Há também professores convidados, como o diretor de cibersegurança da Amazon, que já dão aulas de forma remota em diversos cursos.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) não detalhou medidas extraordinárias tomadas em seus campi de São Paulo e Rio de Janeiro. Afirmou que segue as diretrizes do calendário escolar brasileiro, “não havendo, até o momento, determinação oficial para a suspensão das aulas em virtude do coronavírus”.

Com mais de 50 casos confirmados de coronavírus até quarta-feira, o Ministério da Saúde afirmou que estuda a possibilidade de solicitar a suspensão de aulas em escolas. O Insper também disse que está seguindo as orientações dos órgãos oficiais. Por ora, a instituição de ensino montou um comitê com gestores da escola para “monitorar diariamente a situação”.

A Fundação Dom Cabral disse que segue as aulas conforme o planejado e não expediu nenhum comunicado desde 6 de março, quando divulgou medidas de prevenção e orientações como “falar com pessoas a uma distância de 30 a 40 cm”. No Instituto Coppead/UFRJ, que possui mestrado e programas de educação executiva, a diretoria se reuniu na manhã de quarta-feira para montar um plano de ação que será divulgado no dia 17.

A crise do coronavírus atingiu as principais escolas de negócios do mundo e, desde a semana passada, instituições como Harvard, Stanford e Bocconi, cancelaram aulas presenciais durante o trimestre ou semestre.

Matriculado no MBA de Stanford e com previsão de formação para 2020, o executivo brasileiro Djalma Rezende disse que alguns professores cancelaram as aulas, enquanto outros realizam transmissões on-line. Rezende concorda com a medida porque o vírus está se espalhando rápido e é um risco sério à saúde pública. Mas há um sentimento de frustração com o momento por razões que envolvem o clima de incerteza e, principalmente, porque em sua visão as aulas on-line não replicam a experiência presencial. “Interagir com gente boa, dentro e fora das aulas no campus, é para mim uma das melhores partes do MBA”, afirma.

Outro executivo brasileiro, que preferiu não se identificar e cursa o MBA da Harvard Business School, disse que as aulas on-line da instituição começarão no dia 23 de março e que está sem aulas desde a semana passada. Ele defende que o cancelamento deveria ter ocorrido antes no país.

Atualização às 10h, de 12/3: após o fechamento da edição, o Insper enviou um e-mail aos alunos afirmando que as aulas da graduação estão canceladas. Às 15h40, a instituição afirmou que o cancelamento ocorrerá até o dia 23/3 e inclui graduação, pós-graduação e educação executiva. "Durante esse intervalo, trabalharemos para concluir a adaptação das aulas para o modelo on-line. No caso da Educação Executiva, a adaptação dos cursos será discutida caso a caso", afirma o Insper no comunicado.