Título: Na trilha da valorização
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 19/12/2005, Economia & Negócios', p. A17

O desembarque de novas empresas na Bolsa de Valores de São Paulo, com bem-sucedidas ofertas públicas de ações, tornou-se uma fonte pródiga de lucros para quem arriscou as economias em aplicações de renda variável nos últimos dois anos. A tendência, segundo analistas, deve se manter em 2006, apesar dos riscos inerentes ao tipo de investimento. Eles alertam que o comportamento das últimas debutantes, embalado pelo apetite dos investidores estrangeiros, pode, em algum momento, deixar de ser regra. Salvo raras exceções, os novos papéis viveram um ciclo que pode ser resumido à disparada da estréia, o ajuste seguinte e, finalmente, a trajetória de sucesso. Caso da Natura, que, em 18 meses, acumulou 206% de valorização. Ou do UOL, que, no primeiro dia de negociação, na última sexta-feira, viu sua cotação subir 17%.

Após um longo período de raras estréias, a Bolsa voltou a ser o caminho de empresas interessadas em buscar no mercado de capitais recursos para financiar seu crescimento. Resultado do reaquecimento da atividade econômica, já que a abertura de capital exige, além de investimentos, fôlego na prestação de contas aos minoritários.

A Natura inaugurou a temporada em maio de 2004, mais de dois anos após a última estréia, da CCR, em 2002. Uma aterrissagem em grande estilo no pregão, já que a indústria de cosméticos ingressou no Novo Mercado - nível mais elevado de garantia de direitos aos minoritários. Foi seguida de seis outras empresas no ano passado. Já em 2005, o investidor pôde escolher 11 novos papéis.

Levantamento feito pela corretora Ágora Senior a pedido do JB , com dados disponíveis até o fim do pregão da última quinta-feira, mostra que, dos 18 debutantes dos últimos dois anos, apenas Grendene e Renar Maçãs tiveram perdas nos valores iniciais das ofertas. As demais vêm proporcionando alegrias aos investidores, sendo que, dos lançamentos de 2005, quatro papéis já dobraram a cotação - TAM, Renner, Localiza e Submarino. A Nossa Caixa, que estreou há menos de dois meses, valorizou-se 22,9% - ganho superior ao proporcionado por um ano de investimento em um título público remunerado pela taxa básica de juros (18%).

- O histórico está muito bom. Isso mostra que aparentemente as empresas estão vindo a mercado oferecendo um preço justo por suas ações. A precificação tem sido generosa com os compradores dessas ofertas iniciais - avalia Alan Gandelman, sócio-diretor da Ágora Senior.

O que está, no entanto, por trás de todo esse sucesso? Especialistas não hesitam em atribuir o desempenho ao apetite do investidor estrangeiro.

- O investidor estrangeiro tem adquirido cerca de 65% das ofertas, tendo ficado o investidor institucional com 25% e o investidor pessoa física, com 10%. Ele está ávido por oportunidades e disposto a correr riscos em mercados emergentes. Isso tem inflado a cotação dos papéis - diz Roberto Nishikawa, da Itaú Corretora.

Já a vida após a euforia do lançamento dependerá, explicam analistas, do que a empresa entregar em termos de resultados ou das perspectivas no setor em que atua.

- A Submarino, por exemplo, que teve uma desvalorização nos primeiros dias do pregão, entregou os resultados que prometeu, realizou aquisições acertadas e conseguiu inverter o movimento. Já a Cosan, uma das maiores empresas do mundo do setor sucroalcooleiro, não veio com bons resultados, mas embute a perspectiva de aumento mundial do consumo de álcool - explica Ricardo Magalhães, gestor da Mellon Global Investments.