Título: Um depoimento ''requentado''
Autor: Daniel Pereira e Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2006, País, p. A5

BRASÍLIA - Apegado ao discurso de que as denúncias contra ele são ¿requentadas¿, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, conseguiu ontem, em seis horas de depoimento, afastar-se do centro da crise política. Apesar da disposição de parte do PFL de lutar para que ele seja citado no relatório da CPI dos Bingos por conivência com irregularidades, a tendência é de que o nome do chefe da equipe econômica não figure no documento final. Após a sessão, integrantes da base de apoio ao governo disseram que não há motivo para eventual citação de Palocci. Ampararam a análise na reação positiva do mercado financeiro. O dólar e o risco-país caíram, respectivamente, 0,71% e 1,85%, enquanto que Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em alta de 1,64%. Pesos pesados da oposição trilharam o mesmo caminho dos governistas. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) rechaçou, no plenário da comissão, o discurso do líder do PFL na Casa, José Agripino (RN), favorável à citação de Palocci.

¿ Palocci se mostra à altura de sua função ¿ elogiou o cacique baiano.

Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou que eventual citação, se for feita, não pode constranger o ministro nem incomodar o mercado.

¿ Pode-se até mencionar, mas não de forma radical, o pedido de indiciamento dele. Não vejo necessidade de retorno do ministro à CPI dos Bingos ¿ reconheceu Virgílio.

O relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) seguiu a mesma linha. Após ressaltar as diferenças entre ¿citar¿ e ¿incriminar¿, adiantou que não pretende pedir ao Ministério Público o aprofundamento de investigações sobre a suposta participação do ministro da Fazenda em irregularidades.

Com serenidade, mas demonstrando irritação com certas perguntas, Palocci rebateu as denúncias sobre sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto (SP) e sobre a campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.

O ministro assegurou que não concorrerá a cargo eletivo este ano. Negou a existência suposto esquema de arrecadação de propina mensal de R$ 50 mil da empresa Leão Leão na sua administração em Ribeirão Preto. O dinheiro abasteceria os cofres do PT, como afirmou à CPI dos Bingos seu ex-secretário Rogério Buratti.

Palocci admitiu que pode ter havido irregularidade pontual em seu governo, como ocorre em administrações públicas. Acrescentou, entretanto, que não participou de nenhuma. O ministro atribuiu as denúncias a disputas políticas locais que só tomaram proporção nacional em função do cargo atual no ministério.

¿ Isso eu não condeno, porque meu partido também faz.

Palocci afirmou não poder ser responsabilizado pela atitude de ex-secretários após eles abandonarem o serviço público. Garantiu que as malfeitorias atribuídas a ele não serão comprovadas.

¿ Esses assuntos morrerão na Justiça, porque não são verdadeiros. Os velhos já morreram. As acusações novas também serão arquivadas.

Para o líder do PFL no Senado, Palocci não age com a força necessária e convive com a suspeita da improbidade. Por isso, segundo José Agripino, o ministro merece ser citado no relatório final da CPI. O senador mencionou o caso do secretário particular de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva. Ele foi mantido no cargo mesmo após ter sido acusado pelo relator da CPI de cometer crimes.

¿ Quando vem falar de economia, o Palocci tem resposta para tudo. Quando o assunto são as denúncias, ele tergiversa ¿ criticou Agripino Maia.

Para o relator da CPI Garibaldi Alves Filho, o ministro da Fazenda deixou de esclarecer questões relativas às acusações de favorecimento de empresários durante a administração em Ribeirão Preto, a real ligação com ex-assessores e a história da contribuição de dólares vindos de Cuba para o PT em 2002. O senador reconheceu, no entanto, que a CPI não tem meios para avançar em algumas investigações.