Título: O xadrez da reforma ministerial
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 16/01/2005, País, p. A5

Para não atrapalhar a estrutura do governo, Planalto resiste a mudar o comando das pastas que já tenham sofrido alterações

A reforma ministerial se assemelha a um enorme tabuleiro de xadrez onde as peças devem ser selecionadas com previdência e serenidade. Quando o que está em jogo é o destino do governo, é natural que a responsabilidade seja elevada à quinta potência. Não por acaso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vive um dilema. Ao iniciar as conversas durante a semana a respeito das futuras alterações na Esplanada dos Ministérios, revelou uma preocupação. Segundo interlocutores do Planalto, ao mesmo tempo em que planeja acomodar em seu novo ministério as principais forças políticas, essenciais ao chamado governo de coalizão com vistas às eleições de 2006, o presidente quer evitar que a descontinuidade administrativa em algumas pastas provoque danos irreparáveis ao andamento da máquina governista - satisfatório na maioria das áreas em sua visão. A questão é conciliar as duas necessidades.

Embalado pelas boas notícias na área econômica, Lula pretende fazer de 2005 o ano das realizações. E esse ano, entende, será a vitrine para 2006. Portanto, quanto menos sobressaltos, melhor.

- 2005 será o ano do desenvolvimento, as coisas vão acontecer com muito mais rapidez e tranqüilidade - tem repetido Lula em recentes discursos em cerimônias oficiais.

Levando em conta esse raciocínio, ministérios cujos programas são considerados prioritários pelo presidente e aqueles que já sofreram mudanças em seu comando podem ser preservados. É o caso dos ministérios da Educação, no início do governo controlado pelo senador Cristovam Buarque (PT-DF) e agora sob a batuta de Tarso Genro, e o Desenvolvimento Social, que já teve como ministro José Graziano e agora é administrado por Patrus Ananias.

Sob o mesmo argumento, o presidente também resiste a deslocar o ministro Ciro Gomes (PPS), da Integração Nacional, para outra pasta. Outra dor de cabeça, seria rifar o ministro da Saúde, Humberto Costa. Em 2004, o ministério foi um dos campeões em execução orçamentária, e a maioria dos programas rendeu a contento, na avaliação de Lula e das pesquisas de opinião. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social também não deve sofrer alterações, ao menos não há nenhum sinal do presidente satisfeito com o rendimento do ministro Jacques Wagner.

As exceções seriam os ministérios do Trabalho e Previdência Social. Ambos já experimentaram mais de um ministro desde o início do governo Lula. E devem passar por novas mudanças. A Previdência, conforme antecipou o Jornal do Brasil na última sexta-feira, pode parar nas mãos da senadora Roseana Sarney (PFL-MA). Por meio de interlocutores, a ex-governadora do Maranhão fez chegar ao presidente o seu interesse pela pasta com um dos maiores orçamentos da Esplanada previsto para esse ano. O atual ministro, Amir Lando (PMDB), já estaria de malas prontas para deixar o cargo.

O Ministério do Trabalho, hoje sob o comando de Ricardo Berzoini, serviria para acomodar Olívio Dutra, das Cidades. A pasta é o sonho de consumo do PMDB. Berzoini, com dificuldades para fazer andar as reformas trabalhista e sindical, só aguardaria uma mudança no estatuto do Banco do Brasil para assumir a presidência da instituição. Ele não possui curso superior, condição sinequanon ao posto de presidente.

O presidente ainda estuda observar um maior equilíbrio regional no novo ministério. Manifestou a vontade essa semana em conversas reservadas. Hoje, o ministério é composto basicamente por lideranças paulistas, mineiras e gaúchas.

São seis paulistas (Aldo Rebelo, José Dirceu, Antonio Palocci, Márcio Thomaz Bastos, Ricardo Berzoini, Roberto Rodrigues), cinco mineiros (Luiz Dulci, Nilmário Miranda, Walfrido dos Mares Guia José Alencar, Patrus Ananias) e quatro gaúchos (Olívio Dutra, Tarso Genro, Dilma Roussef, Miguel Rosseto). O ideal, segundo interlocutores de Lula, seria que a reforma pudesse ao menos quebrar um pouco essa hegemonia da região Sudeste-Sul.