Título: Equador leva Colômbia a tribunal
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/04/2008, Internacional, p. 21

Queixa em Haia por fumigação em território equatoriano promete reabrir tensão

A crise latina que envolveu Equador e Colômbia recentemente promete ganhar novo fôlego, pelo menos no front diplomático. O Equador apresentou ontem uma queixa contra a Colômbia na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda. O objetivo é pôr fim às fumigações contra o cultivo de coca, realizadas por aeronaves colombianas em território próximo à fronteira comum aos dois países.

Segundo o governo equatoriano, as aspersões colombianas ultrapassaram a fronteira e afetaram seriamente à saúde, o meio ambiente e economia da população local.

A ministra de Relações Exteriores do Equador, María Isabel Salvador, espera que a Corte de Haia declare que Bogotá violou a soberania e a integridade do Equador com os borrifos realizados durante sete anos, mesmo diante das constantes reclamações de Quito para que suspendessem as fumigações.

A chanceler pediu que a Colômbia encerre, imediatamente, as fumigações aéreas em uma área de 10 km da fronteira do Equador. E insiste em reparações dos danos causados à saúde e ao meio ambiente equatoriano.

As denúncias feitas pela população que mora na área da fronteira equatorina-colombiana retratam que o composto químico, à base de glifosato, é altamente tóxico e causa danos à saúde. Já provocou a morte de animais domésticos, poluiu fontes de água e destruiu plantações e a vegetação local.

Abusos

A queixa foi apresentada dias depois de o presidente do Equador, Rafael Correa, anunciar no sábado, em seu programa semanal de rádio, que responderia de maneira contundente e pacífica aos "atropelamentos" da Colômbia, que, há um mês, organizou um ataque militar contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano, deixando 20 mortos, entre eles, o número dois das Farc, Raúl Reyes, um equatoriano e quatro mexicanos.

¿ Vamos dar uma resposta concreta a todos os abusos que sofremos da Colômbia. Não me refiro somente ao acontecimento de 1º de março, mas aos dos últimos anos ¿ antecipou Correa. ¿ Chega de ser agredido.

A morte do equatoriano Franklin Aisalla no bombardeio contra as Farc, na semana passada, também foi motivo para o presidente apresentar a queixa. O caso ocorreu logo depois de Correa ter dito que a crise com a Colômbia estava superada, ainda que a OEA não tenha condenado Bogotá por violação da soberania equatoriana.

Ontem, María Isabel Salvador sustentou que a queixa não está relacionada à disputa entre os Estados, decorrente do ataque armado da Colômbia. E afirma ter provas dos danos sofridos em função da fumigação. Segundo a ministra, as comunidades indígenas que vivem na área limite têm sido prejudicadas pelas fumigações colombianas, que segundo relatos científicos e médicos são altamente danosas para a população.

No Palácio de Carondelet, sede do governo nacional de Quioto, a chanceler foi objetiva:

¿ Depois de sete anos de tentativas frustrantes de manter uma relação diplomática, o Equador apresentou esta queixa.

Para a ministra, a primeira providência a ser tomada pelo governo de Quito, diante da Corte de Haia, é colocar fim às aspersões do produto químico que causou danos ao bem-estar da população local. E, desistindo do tom conciliatório, afirmou que a relação diplomática com a Colômbia "se esgotou".