Título: 2010 já começou
Autor: Dirceu, José
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2008, Opinião, p. A9

Só aparentemente 2010 está longe. No dia-a-dia, ele já vem sendo construído pelo governo, pela oposição, pela sociedade e pela mídia, numa luta que vai além dos fatos e passa por imagens e símbolos. Cada ator se posiciona com sua história, propostas ou, na falta delas, encenação. A todo-poderosa mídia bem que tenta se impor à realidade do país, como se estivéssemos numa novela, onde pode moldar os personagens e conduzir a história, embora tenha que se confrontar com as pesquisas de opinião que acabam trazendo-a de volta ao mundo real. E as pesquisas favorecem Lula, seu governo e seu partido, o PT.

As recentes pesquisas apenas refletem o resultado das políticas do governo Lula, com aumento do emprego e da renda. Dezenas de milhões de brasileiros saíram da miséria e da pobreza, cresce o poder de compra, com o fortalecimento das classes D e C. Trata-se de uma revolução silenciosa que apenas começou. O país desperta de um sonho secular, para o desenvolvimento nacional, para assumir sua liderança no continente e para acabar com a pobreza.

Sem propostas e programa, a oposição vive da busca frenética por escândalos. Agora é a hora e a vez dos cartões corporativos. Mesmo sabendo do fracasso dessa tática, a oposição aguarda um milagre que possa desconstituir Lula e seu bem-sucedido governo e, assim, abrir espaço para sua volta ao poder em 2010.

A grande esperança dos tucanos está na ausência de um candidato, ou candidata, natural no PT e mesmo na base do governo, com voto, história, força partidária e parlamentar, articulada e nascida no processo político que levou Lula duas vezes à Presidência. Mas, além de não dizer para que quer mudar o país, e como fazê-lo, a oposição nem mesmo tem nome de consenso ¿ a guerra entre José Serra e Aécio Neves apenas começou.

No governo do PT e partidos aliados ainda paira um ar de incredulidade. Todos esperam de Lula uma solução mágica em direção às candidaturas que vão sendo colocadas, como as de Dilma Rousseff, Ciro Gomes ou mesmo de Aécio Neves, numa eventual transferência para o PMDB, dificilmente absorvida pelo PT. Mas a realidade que se impõe na economia também vai se impor na política. Qualquer candidatura para 2010 terá de ser construída como foi a de Lula em 2002, num longo processo que se reiniciou em 1995, depois das derrotas de 1989 e 1994.

Para ser vitoriosa em 2010, uma candidatura da situação, especialmente se for petista, precisa ter o apoio de Lula e significar a continuidade do projeto político que ele não só representa como realiza. Daí o equívoco dos que, como na crise de 2005, falam no pós-Lulismo. É importante que busquemos um candidato que viabilize a vitória em 2010. Seria desejável que fosse do PT; o essencial, contudo, não é eleger um petista, mas um candidato que dê continuidade ao nosso projeto político.

Precisamos ter claro que, sem o PMDB, é impossível eleger o sucessor de Lula. Além da Presidência, trata-se de fazer maioria na Câmara e no Senado para garantir a esse sucessor governabilidade e condições para aprofundar as mudanças no país. Sem essa combinação ¿ fazer o sucessor de Lula e maioria nas duas casas do Parlamento ¿ não teremos estabilidade institucional nem força política para enfrentar as novas tarefas.

Nenhuma candidatura no campo da coalizão do governo deve ser encarada como dissidente, e sim como aliada. Temos um sistema de dois turnos, e a aliança no segundo turno é mais do que natural, em se tratando de aliados já de dois mandatos. Isso vale tanto para a candidatura de Ciro Gomes quanto para uma candidatura do PMDB, dependendo do nome e dos compromissos.

Ao PT não cabe só entender esse momento histórico, a partir das lições tiradas na vitória de 2002 e, especialmente, nas derrotas e erros que acumulamos nos últimos cinco anos. A iniciativa e a ação política do PT são fundamentais para construir uma candidatura vitoriosa em 2010. Sem subestimar o adversário, é preciso confiança. Afinal, estamos no rumo certo, temos um grande timoneiro e o apoio popular.