Título: Bush se aproxima da Europa
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2005, Internacional, p. A8

No mais importante discurso da visita de George Bush à Europa, o presidente dos Estados Unidos procurou enaltecer os pontos em comum e disfarçar as discordâncias com os europeus. Bush fez referências à oportunidade de paz entre israelenses e palestinos, evitando tratar, pelo menos no discurso, da venda de armas da Europa à China e da recusa de Washington em assinar o Protocolo de Kyoto.

- Nossa grande oportunidade e nosso principal objetivo é a paz no Oriente Médio - afirmou Bush, ressaltando as prioridades da atual política externa americana. O apelo para que ''seja levantada a bandeira de uma Palestina livre'' deve ter agradado os europeus, normalmente céticos com relação às manobras de Israel na região.

Bush também exigiu o fim da ocupação síria no Líbano, aumentando ainda mais a pressão sobre Damasco, depois do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri.

- O povo libanês tem o direito de ser livre. Os EUA e a Europa compartilham a idéia de um Líbano democrático e independente - afirmou.

Além de se retirar do Líbano, o presidente americano exigiu que a Síria aja para deter os que apóiam a violência no Iraque e que interrompa a ajuda a ''grupos terroristas que procuram destruir a esperança de paz entre israelenses e palestinos'', em referência ao Hisbolá.

Ontem, 10 mil libaneses se manifestaram em Beirute para pedir o fim da tutela síria.

- Deve haver uma investigação independente dado o alto grau de suspeita da participação potencial da Síria no assassinato de Hariri - afirmou, em Bruxelas, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw.

Na capital belga, Bush pediu ajuda dos Europeus com relação à situação no Iraque e insistiu na suspensão do programa nuclear iraniano.

- Nenhum debate, nenhuma diferença entre governos, nenhum poder sobre a Terra nos dividirá - disse Bush, sobre os parceiros europeus.

Não por acaso, o presidente dos EUA foi apresentado pelo primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt, um dos que mais se opuseram à guerra do Iraque, mas que ontem pediu que se esqueça a discussão ''sobre quem tinha razão e quem não tinha''.

- Os EUA apóiam uma Europa forte porque precisamos de um sócio firme na dura tarefa de promover a liberdade no mundo - disse Bush, que amanhã visitará pela primeira vez as instituições da União Européia (UE).

A Rússia também foi alvo de exigências. O presidente dos EUA vai se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, quinta-feira, na Eslováquia. Segundo Bush, a Rússia ''deve renovar o compromisso com a democracia e a lei''. Amanhã, o presidente dos EUA vai se reunir com o ucraniano recém-eleito Viktor Yushenko, que derrotou em Kiev, na liderança de um movimento popular, um candidato apoiado pelo Kremlin.

Bush lembrou as diferenças com a Europa com relação ao Protocolo de Kyoto, mas se limitou a insistir no ponto de vista de que os progressos da ciência permitirão reduzir a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa.