Título: Mercado elogia comportamento do Brasil
Autor: Carvalho, Jiane
Fonte: Jornal do Brasil, 11/08/2008, Economia, p. A17

Excepcional, exemplar. Estes são alguns dos adjetivos citados para definir o comportamento da economia brasileira em um ano da crise subprime. Ao contrário de outros momentos de estresse, como a crise russa, em 98, e a asiática, em 97, os reflexos no mercado doméstico estão sendo discretos.

O comportamento do Brasil se destaca por dois motivos: não há exposição dos bancos nacionais ao mercado de hipotecas subprimes e os avanços recentes que consolidam a imagem de um país solvente, com regras estáveis e política macroeconômica responsável.

As reservas internacionais são as maiores da história, a US$ 204 bilhões, e somos credores líquidos em dólar. Além disso, o país elevou sua integração com outros mercados e comemoramos 14 anos de controle inflacionário.

¿ O comportamento do Brasil durante esta crise é muito bom, e até o grau de investimento concedido ao país em abril pode ser chamado de excepcional ¿ avalia Paulo Tenani, chefe de pesquisa para América Latina do UBS Pactual Wealth Management.

Entre a piora nos mercados no ano passado e o dia em que a Standard & Poor"s concedeu um upgrade ao Brasil, em 30 de abril, a Bovespa acumulou alta de 37%.

Dinâmica própria

¿ Os mercados globais já se ajustavam, as moedas asiáticas perdiam valor, e o Brasil demonstrava uma dinâmica própria, em parte pela antecipação do grau de investimento ¿ lembra Tenani.

O mercado doméstico de ações é o mais afetado pela crise global. Até sexta-feira, a Bovespa acumula no ano baixa de 11,42%. Já o dólar, apesar da crise global, não demonstra poder de reação frente ao real. No ano, a baixa é de 8,9%. O fato de a Bovespa perder recursos está mais ligada à baixa no preço das commodities, do que a uma desconfiança do mercado brasileiro.

¿ As empresas exportadoras de commodities têm um peso muito grande no Ibovespa e por isto a queda no índice ¿ explica Dalton

Gardiman, economista-chefe da Bradesco Corretora. ¿ A queda no preço das commodities, pelo medo da recessão, tem sido o canal de transmissão da crise global para a bolsa brasileira.

Gardiman acredita que a saída de investidores da bolsa brasileira é estratégica. Já Tenani, do UBS, é menos otimista.

¿ O Brasil precisa gerar boas notícias, é desta capacidade que depende o futuro ¿ avalia. ¿ Usar apenas o juro para controlar a inflação não dá mais certo.