Título: O ideal é a redução do gasto público
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 10/08/2008, Economia, p. E3

O professor de economia e ex-presidente do Banco Central (1995 e 1997-1999) Gustavo Franco foi um dos mentores do Plano Real. Sócio da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos, defende a fixação de metas para o resultado nominal do setor público, "que devia ficar na faixa de 2% a 3% do PIB".

Por que o dólar continua caindo no Brasil, contrariando, às vezes, até certa apreciação da moeda em outros países?

No plano global, o dólar vem enfraquecendo diante de praticamente todas as moedas do planeta, e provavelmente continuará assim enquanto a política monetária americana estiver paralisada pela crise bancária. No plano local, prevalece uma situação muito confortável no balanço de pagamentos, na qual as entradas de capital superam amplamente o déficit em conta corrente, e o BC permanece acumulando reservas, com vistas a evitar apreciação maior do real

Qual o impacto da queda do dólar na alta dos preços?

É um impacto benigno. A inflação dita "internacional", criada pela explosão nos preços das commodities, não nos atingiu graças ao fato de o câmbio ter-se fortalecido. A inflação dos alimentos fugiu de controle um pouco, possivelmente em razão da ação do BC para evitar mais valorização do real.

Como a baixa do dólar influencia as exportações? Como fica a balança de pagamentos?

Os aumentos nos preços em dólares das exportações brasileiras, vale dizer, a melhoria nos chamados termos de troca, têm compensado em boa medida o fortalecimento do real. O crescimento das exportações brasileiras arrefeceu, mas ainda exibe números bons. O crescimento, este sim, muito vigoroso das importações, tem provocado a redução progressiva e acentuada no superávit comercial. Esta tendência prevalecerá enquanto a economia permanecer superaquecida.

Existe patamar ideal na cotação, tanto para ajudar no combate à inflação como para não prejudicar exportadores?

O problema está no gasto público excessivo, que é o fator a superaquecer a economia, e causar déficit comercial e inflação. Isto não se conserta com o câmbio.

Quais as medidas ideais para sanar este quadro do câmbio?

O ideal é redução de gasto público ou aumento de superávit primário, em números mais agressivos do que os que têm sido cogitados. Devíamos caminhar para a abolição do conceito de superávit primário e fixação de metas para o resultado nominal do setor público, que devia ficar na faixa de 2% a 3% do PIB. Esta é a situação fiscal que nos permitiria ter juros de primeiro mundo. Mas infelizmente, não me parece ser esta a direção para onde caminha o governo.