Título: PF indicia acusados de matar Dorothy
Autor: Leonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Nacional, p. A6

Depois de duas semanas de troca de farpas, as polícias Civil e Federal entregam hoje à Justiça do Pará inquéritos separados que apontam os fazendeiros Vitalmiro de Moura, o Bida, e Amair Feijoli da Cunha, o Tato, como mandantes da morte da missionária americana Dorothy Stang, ocorrido no último dia 12, em Anapu, cidade do oeste do Estado. As investigações das duas polícias apresentam conclusão idêntica também ao indicarem como executores Clodoaldo Batista, o Eduardo, e Rayfran Sales, o Fogoió, autor dos seis disparos que mataram a religiosa. Os envolvidos no assassinato serão indiciados por homicídio qualificado, podendo ser condenados até 30 anos de prisão. A Polícia Federal concluiu que Rayfran e Clodoaldo não tinham experiência em pistolagem e certamente não iriam receber os R$ 50 mil prometidos por Tato, que teria intermediado a contratação deles. Rayfran e Clodoaldo receberam R$ 50 para fugir e a promessa de recompensa pelo assassinato caiu para R$ 10 mil. Ontem, o delegado federal Walame Machado fez uma acareação com a presença de Rayfran, Clodoaldo e os vaqueiros Cleoni Santos e Magnaldo Santos, que trabalhavam na fazenda de Bida e teriam dado comida e agasalhos aos dois executores durante os dois dias em que eles permaneceram escondidos na mata. Os vaqueiros vão responder por favorecimento pessoal. Se condenados, podem ficar até seis meses presos. "É certo que Bida e Tato estavam na fazenda no dia do assassinato", disse Walame Machado.

Já o advogado de Bida, Augusto Septimio, disse que seu cliente só vai se entregar quando for denunciado na Justiça. "No momento, é irrelevante a apresentação de Bida", afirmou. "Não há ligação entre Bida e Tato", completou, desconsiderando que Tato ambos eram amigos. Septimio disse que seu cliente só deveria ser indiciado por favorecimento pessoal, pois não teria participação direta no crime. O advogado não vê elementos para que a polícia o acuse por homicídio qualificado. Um agente policial que acompanhou o caso observou que é irregular no País uma pessoa responder pelo mesmo crime em dois inquéritos - um na Polícia Federal e outro na Polícia Civil. Ele ressaltou que o juiz de Pacajá, que tem Anapu sob sua jurisdição, deverá fundir os dois inquéritos.

FBI

Os dois agentes do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, que estiveram em Altamira e Anapu para tirar fotos e entrevistar os presos avaliaram, ao menos em público, que as duas polícias atuaram em perfeita harmonia. "Os trabalhos de investigação nos deixaram bastante impressionados", disse Richard Cavalieros, adido do FBI no Brasil. "As duas polícias cooperaram ao máximo", completou.

Os agentes vão enviar ao departamento norte-americano de Justiça relatórios sobre as investigações da Civil e da Federal. Ontem, eles visitaram o túmulo de Dorothy Stang, em Anapu. Os agentes do FBI tiveram um constrangimento na tarde de ontem. A aeronave da PF que os levaria de volta para Brasília teve uma pane elétrica na hora da partida. O vôo foi cancelado e os agentes só devem viajar hoje por uma empresa privada.