Título: Sharon ameaça congelar diálogo e não libertar mais prisioneiros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Internacional, p. A8

O primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, ameaçou ontem congelar o diálogo de paz com os palestinos se eles não aniquilarem o grupo terrorista responsável pelo atentado suicida a bomba de sexta-feira, em Tel-Aviv, que deixou 4 israelenses mortos e mais de 50 feridos. Simultameamente, também como conseqüência do atentado, o ministro da Justiça israelense, Tsipi Livni, acrescentou que Israel vai reconsiderar a decisão de libertar mais 400 prisioneiros palestinos. Na semana passada, o governo israelense libertara 500 prisioneiros, cumprindo promessa feita em 8 de fevereiro ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, na esteira da retomada das negociações de paz.

Ontem, ainda existiam divergências sobre a organização terrorista que teria levado a efeito o ataque. No sábado, a Jihad Islâmica, um grupo palestino com líderes no Líbano e na Síria, assumiu a autoria horas depois de ter negado qualquer envolvimento no episódio. Abbas acusou pelo atentado um grupo que classificou de "terceiro partido", uma referência à organização guerrilheira libanesa Hezbollah, apoiada financeira e politicamente pela Síria e Irã. Líderes do grupo extremista libanês negaram seu envolvimento.

Um influente oficial militar israelense também disse que o Hezbollah nada teve a ver com o atentado de Tel-Aviv, embora, segundo ele, esteja planejando um ataque contra Israel.

Sharon acusou da autoria militantes da Jihad Islâmica, que estariam agindo sob ordens de seus chefes na Síria. "Sabemos disso com absoluta certeza", afirmou o líder israelense. "O Estado de Israel está interessado em levar adiante os entendimentos para a paz, mas não haverá progresso político - repito, não haverá progresso político - enquanto os palestinos não desencadearem uma campanha efetiva de destruição dos grupos terroristas e da infra-estrutura deles", insistiu Sharon.

Em resposta, o primeiro-ministro palestino, Ahmed Korei, ressaltou que os palestinos querem continuar comprometidos com as diretrizes estabelecidas no início do mês na cúpula de Sharm el-Sheikh, balneário egípcio do Mar Vermelho.

"Se Israel quiser cortar contatos com os palestinos essa será uma decisão pessoal deles e não vamos chorar por causa disso", acrescentou o chefe do governo palestino.

Fontes militares israelenses revelaram ontem que receberam informações um mês atrás de que a célula envolvida no atentado de Tel-Aviv revelou seus planos a funcionários do governo palestino, que não adotaram nenhuma providência.

AMEAÇA À SÍRIA

Israel Ameaçou também a Síria. O vice-ministro da Defesa israelense, Zeev Boim, disse que os israelenses não hesitarão em atacar a Síria se Damasco nada fizer para conter as organizações extremistas palestinas que operam a partir do território sírio. Em 2003, aviões israelenses bombardearam uma base da Jihad Islâmica na Síria depois de um ataque terrorista contra um restaurante de Haifa que deixou 19 mortos.

"Não há nenhuma dúvida de que a Síria é um centro de terrorismo em atividade, não só contra Israel, mas contra todo o Oriente Médio", acusou Boim. "Operações nossas contra a Síria são, certamente, possíveis. Fizemos isso no passado. Se Bashar Assad (presidente sírio) precisa de outra mensagem nossa, certamente ele terá." No entanto, oficiais das Forças Armadas israelenses disseram ontem que não há nenhuma ação militar planejada contra a Síria.