Título: Santa Catarina busca diferença na exportação
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Economia, p. B10

As três maiores indústrias de cerâmica de revestimento de Santa Catarina colhem hoje os frutos de uma decisão estratégica que as transformaram em empresas capazes de disputar mercados no mundo todo. A tecnologia foi a chave que abriu essas portas exigentes. O Brasil exportou para 138 países o total de US$ 342 milhões em revestimentos cerâmicos em 2004 e fechou o ano com crescimento de 36,5 % em relação aos US$ 250,7 milhões do ano anterior. Eliane, Portobello e Cecrisa responderam por US$ 148,05 milhões. No mercado interno, a situação é diferente. Para Luiz Alexandre Zugno, presidente do Sindicato das Indústria de Cerâmica de Criciúma, que reúne onze empresas do sul do Estado, a concorrência paulista está provocando estragos. "Nós ficamos praticamente no zero a zero em 2004. Houve um crescimento de 14% nas exportações em relação a 2003, enquanto no mercado interno tivemos uma redução de 8%. Com o problema do câmbio, acredito que zeramos o resultado", disse. Para agravar a situação, o gás natural usado no processo industrial é mais caro do que em outros Estados: R$ 0,72 o metro cúbico, enquanto os gaúchos pagam R$ 0,66 e o baianos R$ 0,43.

Esses fatores poderiam ser mortais para os setor, mas o desempenho da indústria de cerâmica de revestimento em Santa Catarina está intimamente ligado ao aperfeiçoamento dos processos produtivos e a opção pelo uso intensivo da tecnologia da via úmida: 60% das empresas usam esse método. Embora exija investimentos mais altos em equipamentos e mão-de- obra do que na via seca, o ganho em escala e na qualidade final compensam.

Para a Cecrisa, uma das três maiores empresas do setor no Brasil, as exportações representaram 40% do faturamento em 2004. Exportando para mais de 50 países (80% do Primeiro Mundo), tem cinco fábricas em Santa Catarina, Goiás e Minas Gerais. "Sofremos com o forte impacto do câmbio, que não traduz a realidade dos fatos", disse Rogério Sampaio, presidente da empresa.

Segundo ele, a perda de mercados para os concorrentes de São Paulo foi reflexo dos preços e da renda familiar dos brasileiros. Por isso, o esforço para incrementar as exportações acabou dando bons resultados, que seriam melhores não fosse o câmbio.

As outras duas maiores empresas do setor em Santa Catarina têm um perfil parecido. A Eliane Revestimentos Cerâmicos, com sede em Cocal do Sul, cidade vizinha de Criciúma, é uma das maiores produtoras mundiais de cerâmica e exporta para cerca de 85 países em todos os continentes, ocupando a liderança nacional em exportações desde 1994.

Com empresas no exterior, a Eliane tem participação global de 30% nos mercados interno e externo. A Portobello, que fica em Tijucas, a 45 quilômetros ao norte de Florianópolis, tem oito fábricas capazes de produzir 24 milhões de metros quadrados por mês, empregando 1.700 pessoas. Atualmente, destina 40% de sua produção para exportação, atendendo 25 países nos cinco continentes.