Título: Mulher acha filhas 25 anos depois
Autor: Ricardo Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Metrópole, p. C8

Um telefonema do filho Alex, que mora em São Paulo, acabou com o mistério que durava mais de 25 anos. Quando atendeu a ligação, em outubro, a comerciante Ediva de Oliveira, de 52 anos, gelou ao ter notícia das filhas gêmeas, seqüestradas em São Bernardo do Campo quando tinham 1 ano e 8 meses, em julho de 1979. "Sou eu, mãe, a Mônica", disse a filha, do outro lado da linha. Chorando, Ediva perguntou da outra menina, Alexandra. "Está bem, mãe, depois a senhora vai falar com ela", disse Mônica, referindo-se à irmã gêmea, que também mora em São Paulo. A história de Ediva se parece com o drama vivido na ficção pela personagem Maria do Carmo, representada pela atriz Suzana Vieira, na novela Senhora do Destino, da Rede Globo, mas é ainda mais dramática.

A comerciante teve as filhas roubadas por duas irmãs com quem tinha deixado as crianças enquanto procurava emprego. "Foi a pior fase da minha vida. Fiquei desesperada quando percebi que minhas filhas tinham sido roubadas. Tive uma sensação terrível de impotência, fiquei deprimida, emagreci uns 10 quilos, tentei até me matar, só não fiz porque pensei nos meus outros dois filhos."

Depois de 15 anos de buscas e já viúva do segundo marido, Ediva resolveu deixar São Bernardo do Campo. Foi para a rodoviária e pegou o primeiro ônibus para o Nordeste, com destino ao Rio Grande do Norte. Durante a viagem, conheceu um casal de São Miguel dos Campos (AL) que se dispôs a ajudá-la. Assim, chegou em Alagoas, há dez anos.

Mas a história de Ediva ainda não teve um final feliz. Ela não tem condições financeiras para deixar o bar que arrenda no bairro da Cambona, em Maceió, e visitar as filhas em São Paulo. As gêmeas, hoje com 27 anos, estudam e trabalham e também não podem viajar para reencontrar a mãe.

Segundo a comerciante, Mônica desconfiava que não era filha legítima da mulher que chamava de mãe. Funcionária de uma editora em São Paulo, usava o tempo livre para investigar seu passado. No cartório de São Bernardo, conseguiu o endereço da mãe verdadeira. Ediva já não morava lá, mas a moça acabou encontrando o irmão, por meio de um tio.

"Quando meu filho Alex encontrou a Mônica, imediatamente ligou para mim e perguntou se meu coração estava preparado para receber uma notícia boa. Em seguida, colocou a Mônica para falar comigo", disse. "Até os amigos aqui de Maceió, que presenciaram o telefonema, não se agüentaram de tanta emoção."

Na conversa com a mãe, Mônica contou que foi criada como filha adotiva. "A mãe de criação disse que ela tinha sido adotada, porque a mãe biológica não teve condições de criar. As duas nunca desconfiaram que tinha sido roubadas." Na época do seqüestro, Ediva estava separada do primeiro marido, o policial militar Orestes Orlando de Oliveira, com quem teve outros dois filhos, Alex e Ariadne, hoje com 29 e 30 anos, respectivamente.

Em agosto de 1979, a comerciante procurou o Juizado de Menores de São Bernardo, mas não conseguiu ajuda. Ela acredita que um funcionário do local forjou um documento de adoção das crianças. "Durante 15 anos procurei por essas meninas. Todo aniversário delas eu chorava de saudade. Até hoje guardo as roupinhas delas quando eram pequenas."

Ediva voltou a casar e foi o segundo marido, Expedito, quem a estimulou a retomar a busca pelas filhas pela Justiça. As seqüestradoras, identificadas apenas como Jacobina e Antônia, chegaram a ser convocadas para três audiências e a comerciante conseguiu a determinação de um juiz para que as meninas fossem devolvidas, mas as mulheres não apareceram na data marcada para a entrega. Para a comerciante, as irmãs são de família influente na região do ABC, por isso conseguiram escapar ilesas do processo.

Ainda em São Bernardo, Ediva teve mais duas filhas, Viviane, de 21 anos, e Edmara, de 13, com quem mora, nos fundos do bar que arrenda em Maceió. Alexandra é formada em comércio exterior e Mônica faz faculdade de publicidade. Mônica conserva o nome de batismo e do registro de nascimento. A outra filha, registrada e batizada como Alexandra Aparecida de Oliveira, usa o sobrenome da família que a seqüestrou. "Ela pensa que foi adotada, mas eu provo que foi roubada", garante Ediva.