Título: Lessa confirma diálogo, mas vê exagero de Lula
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Nacional, p. A8

O "alto companheiro" de Lula que fez as denúncias de irregularidades foi o economista Carlos Lessa, e a "função muito grande" que exercia era a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é a principal fonte de recursos para os investimentos privados no País. Lessa confirmou ao Estado ter alertado o presidente, logo no início do governo, sobre a "situação muito ruim" em que encontrou o banco, decorrente, segundo ele, de maus negócios referentes ao processo de privatização. O economista admitiu que Lula se referia a ele, mas acha que "exagerou um pouco" no discurso em Jaguaré. "Eu nunca disse que o BNDES era uma instituição falida, mas que estava realmente muito ruim." Lessa, que antes de assumir o banco era reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também ponderou que não pode afirmar que houve corrupção durante o processo de privatização de estatais. "Só o Ministério Público pode dizer isso, depois de concluir inquérito", disse.

"Não há como provar corrupção na negociação porque isso não deixa rastro. O único rastro que tivemos foram contratos mal feitos, o que também pode ser decorrente de má capacidade de gestão, assistência jurídica precária, uma série de coisas", explicou Lessa. "O fato é que o banco construiu operações sem garantias, foi uma coisa terrível. Tivemos muito prejuízo em várias operações. Mas corrupção é uma coisa muito séria. O que podemos dizer é que 'bancariamente', tecnicamente, foram maus negócios."

Lessa citou o caso da Eletropaulo, que foi vendida ao grupo norte-americano AES com financiamento do BNDES sem garantias reais, o que resultou em dívida de US$ 1,2 bilhão que a multinacional se declarava incapaz de pagar. No fim, o banco teve de aceitar participação acionária equivalente à metade do débito e renegociar o prazo de pagamento para o restante.

PARCERIAS

"O que temo é que com as Parcerias Público-Privadas aconteça a mesma coisa." Lessa frisou ser a favor das PPPs e ressaltou que o governo deveria ver o projeto como um "instrumento auxiliar" e manejado com muito cuidado.

"As PPPs devem ser financiadas pelo BNDES, mas com garantias reais dos investidores. Os empresários têm de ser penalizados, no caso de dar errado. Têm de assumir o risco. Por isso são investidores", argumentou. "O pagamento (do empréstimo) pode ser com receita futura, mas a garantia, não. Caso contrário, teremos o mesmo problema que com a privatização, que foi feita a toque de caixa e com muito poucos cuidados." Lessa foi substituído no BNDES pelo então ministro do Planejamento, Guido Mantega, que coordenou a elaboração do projeto das PPPs.