Título: Membros da quadrilha têm vida luxuosa
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Nacional, p. A11

Embora ganhem, entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, os fiscais presos vivem de forma luxuosa. Arnaldo Carvalho da Costa, por exemplo, tem um prédio, oito apartamentos, duas casas, uma fazenda, quatro lojas e uma sala, além de uma Blazer e um GM Zafira CD. No ano passado, antes de ser preso pela primeira vez, Costa foi cedido pelo INSS à Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). De acordo com a Assessoria de Imprensa da casa, ele exerceu cargo em comissão de assistente de diretoria no período entre 9 de novembro a 6 de dezembro, atuando na área de informática. A informação consta de ofício assinado pelo presidente da Alerj, Jorge Picciani, devolvendo o servidor para o INSS. "O mais estranho não é que seja assinado pelo Picciani, mas que a transferência tenha sido realizada na véspera dele ter sido preso", considerou o superintendente do INSS no Rio, André Ilha. Segundo ele, do valor fraudado, já foi possível recuperar R$ 23 milhões.

A quadrilha atuava de duas maneiras: forjando débitos maiores do que os devidos ou perdoando dívidas existentes, ambas para cobrar propina.

O procurador Fábio Aragão declarou ainda não ser possível afirmar quantas das empresas envolvidas participaram do esquema. Entre as visitadas pelo grupo constam a Varig, a De Millus e a Companhia Mauá. "A De Millus foi multada em R$ 144 milhões, mas o empresário não pagou o valor e nem aceitou negociá-lo." No entanto, há empresas que acabaram cedendo à pressão dos fiscais. "Um auditor lavrava a multa e outro ia lá propor uma redução", detalhou o delegado da Deleprev Acen Vatef.

Apesar da localização de uma lista manuscrita ter sido o estopim da prisão de ontem, os primeiros passos da investigação foram dados em 2000, quando um funcionário da Navegação Mansur, uma das empresas investigadas, procurou o MPF para denunciar o esquema. "Ele foi demitido e foi lá para contar sobre a fraude. Naquela época, o caso era com apenas uma empresa. Com a lista, conseguimos detectar as ramificações", detalhou Aragão, acrescentando que o referido funcionário foi ameaçado de morte e, por isso, foi integrado ao Programa de Proteção a Testemunhas.

Procuradas pelo Estado, a única empresa que respondeu à reportagem foi a De Millus. "Nunca fui procurado por ninguém do INSS nos últimos dez anos. Os débitos da empresa são pagos ou discutidos judicialmente", declarou Nelson Cuptik, responsável pela área financeira e administrativa.