Título: Em Belém, rendimento cai 42% em relação a 1996
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Vida &, p. A12

Marcado há três décadas por graves conflitos sociais na área rural, com mortes violentas na disputa pela terra, o Pará vive outro fenômeno preocupante: o empobrecimento na área urbana. Em 2003, enquanto o trabalhador brasileiro perdeu em média 7,5% nos rendimentos mensais sobre o ano anterior, a região metropolitana de Belém teve queda de 20,9%. Comparado a 1996, o recuo da renda na área chega a 42% - ante os 18,9% da queda média de renda que sofreu a população do País. Os resultados, mais agudos na região paraense, refletem a deterioração do mercado de trabalho no País naquele ano, o primeiro do governo Lula, um quadro que começou a dar sinais de reversão em 2004. "Belém é uma situação particular entre as regiões metropolitanas, que, por sua vez, são um ponto fora da reta comparado ao resto do Brasil", resume o diretor-executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), André Urani. Ele explica que o interior tem sido mais dinâmico. Enquanto as metrópoles estão saturadas, com excedentes de mão-de-obra, o crescimento econômico vem se descentralizando no País. Basta ver que entre 2002 e 2003 a massa de rendimentos mensal do trabalho encolheu R$ 3,1 bilhões, de R$ 50,9 bilhões para R$ 47,8 bilhões, principalmente por causa da queda da renda. Metade dessa perda (R$ 1,5 bilhão) foi nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, que respondem por 20% da população.

Os sete anos de recuos sucessivos na renda brasileira refletem, principalmente, o baixo crescimento econômico. A renda do trabalho em 2003 foi 18,9% inferior à de 1996. O professor da PUC-RJ José Márcio Camargo explica que o forte desemprego no período prejudicou o poder de barganha do trabalhador. A perda do poder de compra foi agravada com o avanço da inflação, sobretudo em 1999 e entre 2002 e 2003. Nesse ano, a economia estagnou (variação de 0,5%), reflexo da política econômica.

O quadro afetou em cheio o mercado de trabalho. O peso relativo de Belém é menor que o de outras regiões, mas seu quadro é o mais dramático. Para se ter uma idéia, a queda de quase 21% da renda do trabalho na região é comparável à de 25% que o trabalhador sofreu, praticamente na mesma época, na Argentina, país que deu o calote na dívida em 2001.

No restante do País, quedas do valor médio do rendimento do trabalho bem acima da média ocorreram também no Rio Grande do Norte (18,2%) e nas regiões metropolitanas de Salvador (17,3%) e Recife (13,5%). No extremo oposto, cresceu a renda do trabalho em Santa Catarina (2,1%) e no Tocantins (0,6%). A queda de renda na metrópole paulista cravou 10,4%, ficou em 11,2% em Belo Horizonte e 5,9% no Rio.

Em 2004, o crescimento estimado do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% deve ter estancado as perdas, diz o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Luiz Eduardo Parreiras. As projeções de mercado de crescimento do PIB em 2005 estão próximas de 4%.