Título: Funcionários do IBGE protestam com mordaças
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Vida &, p. A12
A portaria do Ministério do Planejamento determinando que o IBGE envie as pesquisas estruturais, como a Síntese dos Indicadores Sociais, dois dias antes da divulgação oficial está causando constrangimento entre os técnicos no instituto. Por mais que o governo tenha garantido não haver interferência ou censura no IBGE, durante a semana muitos pesquisadores sem cargo de chefia preferiram não atender a imprensa. A entrega da pesquisa aos jornalistas com uma semana de antecedência, sob embargo, foi mantida. Ontem, durante a divulgação da pesquisa, na sede do IBGE, cerca de 20 funcionários foram ao auditório usando mordaças pretas e tentaram entregar uma delas ao presidente do instituto, Eduardo Pereira Nunes. A Síntese foi a primeira pesquisa estrutural divulgada depois da polêmica.
Editada em 28 de janeiro, a portaria determina que os pesquisadores só dêem entrevistas no dia da divulgação. Os resultados foram entregues no dia 17 de fevereiro aos repórteres. No dia 22, segundo Nunes, a Síntese foi encaminhada ao Planejamento. "Não houve qualquer recomendação ou qualquer comentário do ministério. Vocês receberam o material com embargo? Sentiram alguma mordaça?", disse Nunes, questionando os repórteres.
Até agora, o Planejamento recebia as informações no mesmo dia da divulgação para a imprensa. "Por que o governo quer esses dados antes? O governo Lula começa a tomar medidas autoritárias", protestou Susana Lage Drumond, integrante da executiva do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE. Os sindicalistas reclamam que os funcionários não foram ouvidos sobre a portaria, elaborada em conjunto pelo Ministério do Planejamento e pelo IBGE.
"O objetivo de encaminhar a pesquisa com antecedência é permitir que o governo fique mais informado e mais à vontade para atender a imprensa. Onde está a mordaça?", sustentou Nunes.
A portaria foi editada pouco depois de o presidente Lula ter questionado os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) segundo os quais a obesidade é um problemas mais grave no Brasil do que a fome e a desnutrição. Tanto o Ministério do Planejamento quanto o IBGE insistiram que não havia ligação entre os dois episódios.