Título: Violência desequilibra população
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Vida &, p. A13

A morte de homens jovens por causa da violência chegou ao ponto de mudar o perfil da população, acentuando ainda mais a diferença entre o número de homens e mulheres no País. Com uma taxa geral de mortalidade masculina mais alta do que a feminina e um índice de mortes violentas entre rapazes dez vezes mais alto do que entre as moças, as mulheres, que já eram maioria, ficaram ainda mais numerosas. Como conseqüência, enquanto os homens morrem mais e mais cedo, sobram mulheres, especialmente mais velhas. Pelos registros, em 1970 havia 98,98 homens para cada grupo de 100 mulheres. Na década seguinte, houve pouca diferença, ficando em 98,74. No entanto, a partir dos anos 1990, essa proporção sofreu maiores modificações: em 1991 havia 97,5 homens para cada 100 mulheres; em 2000 foram 96,93.

Já a Síntese de Indicadores Sociais divulgada ontem pelo IBGE aponta proporção de 95,2 homens para cada 100 mulheres. A maior diferença entre as populações, 86,5, é registrada na região metropolitana do Rio, onde há altas taxas de mortes violentas entre os jovens.

Mesmo levando em conta que os outros dados são de censos e esse último é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e não inclui o Norte rural, está confirmada a tendência de queda.

A pesquisa mostra ainda que os jovens não se beneficiaram com o avanços na área de saúde que levaram a uma redução nas mortes por causas naturais nas décadas de 1980 e 1990. Apesar de as mortes por doenças entre os rapazes de 20 a 24 anos terem caído 41,4% entre 1980 e 2003, houve um aumento de 52% nas mortes por causas externas - homicídios e acidentes, principalmente - no mesmo período.

Entre as moças da mesma idade, ocorre o oposto: houve redução de 54% das mortes por doenças e a taxa de mortalidade por causas violentas se manteve praticamente inalterada. Na população jovem feminina, a taxa em 2003 era de 18 mortes violentas por 100 mil habitantes. A taxa masculina era mais de dez vezes maior: 184 por 100 mil habitantes.

TRÁFICO

Por trás da escalada das mortes violentas entre os jovens, está a expansão do tráfico de drogas e o maior acesso às armas de fogo. "Nos anos 90, começamos a perder a guerra contra o tráfico. Antes, cada grupo tinha um terreno. Hoje há cartéis que recebem drogas e distribuem para os mesmos pontos. Ao mesmo tempo, a falta de política de segurança aumentou a corrupção e a ineficiência das polícias", afirma o cientista político Geraldo Tadeu Moreira, do Núcleo de Estudos da Criminalidade da Uerj.

O pesquisador diz que não vê iniciativas capazes de provocar mudanças. "Não há nenhuma intervenção que permita falar em redução dos homicídios. Nem projetos na área social que tirem jovens da situação de risco, nem intervenção do poder público, nem melhoria da situação econômica a ponto de alterar o quadro", diz.

Outro pesquisador da violência, o sociólogo Gláucio Ary Dillon Soares, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), também aponta a "interação entre drogas e armas de fogo" como fator para o aumento dessas mortes.

Segundo o professor, as taxas de mortalidade por homicídios foram reduzidas nos Estados Unidos, durante o governo de Bill Clinton, de 10 mortes por 100 mil habitantes para 6 a 7 por 100 mil, por causa de ações de repressão ao tráfico e de "programas policiais inteligentes", com ação direta nas gangues de traficantes.