Título: BNDES tem US$ 1,9 bi para a AL
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Economia, p. B12
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem US$ 1,9 bilhão em carteira para financiar projetos de infra-estrutura na América Latina, revelou ontem o presidente da instituição, Guido Mantega. Para poder atender a essa demanda e fazer frente a futuros investimentos, o executivo contou, ainda, que está pleiteando junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) uma verba adicional de US$ 1 bilhão, além da linha de mesmo valor que o banco já tem direito junto ao organismo multilateral. Os empreendimentos que deverão contar com o apoio do BNDES na América Latina são de países como Venezuela, Peru, República Dominicana e Chile, contou Mantega. "São projetos que já foram encaminhados de alguma forma, ou para uma simples consulta, ou que já estão sendo avaliados para serem enquadrados no banco", acrescentou.
Ao pedir mais recursos para o BID, Mantega indicou que o BNDES "está olhando para o futuro", com o objetivo de garantir o orçamento previsto para este ano, de R$ 60 bilhões, além de fortalecer o fôlego da instituição por meio da capitalização. Ele contou que o pedido está sendo analisado pela Comissão de Financiamento Externo e "evidentemente deverá ser aprovado".
Os empréstimos para fomentar a infra-estrutura latino-americana serão garantidos por meio dos Convênios de Pagamentos de Créditos Recíprocos (CCRs), que são uma espécie de câmara de compensação entre bancos centrais latino-americanos. Os CCRs garantem o pagamento do financiamento em caso de inadimplência de quem os contratou.
Esse dispositivo foi retomado ontem entre o Brasil e a Argentina com o financiamento de US$ 200 milhões anunciado pelo BNDES para a exportação de bens e serviços brasileiros para o país vizinho.
Os recursos serão usados para ampliar em até 2,9 milhões de metros cúbicos de gás a capacidade de transporte de dois gasodutos que ligam o extremo Sul da Argentina (Terra do Fogo) à capital, Buenos Aires. O custo total é de US$ 315,8 milhões. O prazo de pagamento é de 10 anos e os encargos anuais levam em conta a taxa de juros Libor mais spread de 2,59%.
A construtora brasileira Norberto Odebrecht vai receber US$ 170 milhões e a fabricante brasileira de tubos Confab vai receber outros US$ 30 milhões para fornecerem equipamentos e serviços à Transportadora de Gás del Sur (TGS), cuja controladora (Ciesa) é sócia da filial argentina da Petrobrás. "É um estímulo à produção de aço e tubulações fabricadas no Brasil e que serão exportadas para a Argentina. Estamos estimulando a produção de bens e serviços", afirmou Mantega, ressaltando que as peças já estão sendo exportadas ao país vizinho, tendo em vista a urgência da obra, que será concluída em agosto.
O esforço do BNDES para a sua capitalização vai incluir novas formas de captação de recursos tanto no mercado externo quanto no interno, afirmou Mantega.
Recentemente, ele já havia comentado que o banco poderia emitir debêntures ou criar um fundo de ações. "Vamos continuar capitalizando o lucro do banco, que será anunciado na semana que vem. Dessa forma, nós vamos aumentando o nosso patrimônio de referência (de R$ 21 bilhões). E também há outros expedientes em curso que serão anunciados no momento devido, de modo a aumentar o capital."