Título: Amiga de Lula, líder aeroviária critica propostas para as aéreas
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2005, Economia, p. B28

A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, foi alçada ao centro do debate sobre o setor aéreo há duas semanas, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a elogiou diante de uma platéia de ministros e políticos. Segundo fontes na Esplanada, o presidente teria elogiado a "companheira Graziella" durante reunião em que se discutiu os motivos de ele ter sancionado o artigo que beneficiou as aéreas na Lei de Falências. Ao expor seus motivos, Lula leu uma longa carta particular que recebera de Graziella dois dias antes. Escrita como um apelo para Lula sancionar o artigo das aéreas, a carta faz diversas críticas à falta de políticas estruturais para o setor e ao processo de reestruturação da Varig.

"Foi um desabafo", afirmou Graziella, que só confirmou ter escrito a carta depois de muita insistência. Amiga de Lula desde 1985, dividindo palanques nas lutas sindicais, Graziella foi prontamente atendida no caso da nova lei. No entanto, as decepções em relação à falta de política geral para o setor e sobre o futuro da Varig continuam. A seguir, trechos da entrevista.

VARIG

Nos últimos dois anos foram feitas várias tentativas para salvar a Varig - fusão, uma medida provisória (MP) que não vingou, inúmeras consultorias, como KPMG, Brain & Co., Fator, Unibanco, Trevisan. Sabemos que essas consultorias não ganham pouco e, no entanto, nada foi resolvido. Se existe vontade de manter a Varig voando, tem de sentar e renegociar as dívidas. Agora, é preciso agir rápido, sob pena de a Varig seguir o mesmo curso da Vasp e da Transbrasil.

UNIBANCO

O Unibanco (contratado para desenhar o plano de recuperação da Varig) está alijando os trabalhadores da negociação. Na penúltima vez que estive com o Alencar (o vice-presidente, José Alencar), ele garantiu que iríamos participar da discussão, mas isso não aconteceu. Queremos saber qual será o sacrifício. Fala-se que o plano do banco prevê quase 5 mil demissões. Se o objetivo é recuperar a empresa, isso é inaceitável. A Varig já fez todas as demissões necessárias.

BLINDAGEM

Se o Unibanco pretende fazer uma blindagem (separando a Varig nova da velha, que manteria os passivos trabalhistas), qual será o custo? Na época da fusão, o cálculo para blindagem igual, demitindo todo mundo na Varig e na TAM para depois recontratar, era de US$ 500 milhões. Pelo plano da MP, que falava na liquidação judicial da Varig, o custo das demissões era de US$ 300 milhões.

PROPOSTA DO SNA

Nossa proposta para a Varig é bem mais barata. Inclui a implementação das resoluções do Conac ( Conselho Nacional de Aviação Civil ), como a que prevê equiparar o preço interno do combustível de aviação - que, no Brasil, é 49% mais caro -, aos internacionais. Prevê ainda a renegociação da dívida com o governo, com uma carência de 3 anos e mais 15 anos para pagar. Com investimento de US$ 75 milhões para a empresa poder renovar a frota e adquirir aviões mais econômicos e mais a economia anual de US$ 50 milhões que se faria com combustível, em um ano e meio a empresa teria pago o empréstimo.

FALTA DE DIRETRIZES

Faltam diretrizes para o setor. As resoluções do Conac, aprovadas por sete ministros em abril de 2003, não foram implementadas. E, para a minha surpresa, em uma reunião na Defesa na semana passada, o Comandante da Aeronáutica, Luiz Bueno, disse que as resoluções não valem nada. Ora, elas são o pontapé inicial para o marco regulatório do setor. Se as resoluções tivessem sido implementadas, as empresas estariam mais competitivas e não estaríamos vivendo essa crise.

AVANÇOS

Lula teve a sensibilidade de não vetar o artigo das aéreas. O governo avançou ainda ao impedir a concorrência predatória, ao exigir das empresas um estudo econômico de viabilidade econômicas para a concessão de novas linhas.