Título: Dirceu pede a João Paulo que assuma liderança
Autor: Christiane Samarco, Colaborou: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, NAcional, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) seja o novo líder do governo na Casa, substituindo o deputado petista Professor Luizinho (SP). O desejo foi comunicado a João Paulo pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, mas não foi bem recebido nem surtiu o efeito esperado. Segundo um interlocutor comum do presidente e de Dirceu, João Paulo reagiu mal à proposta, deixando claro que não é isso o que ele quer e mais: se o objetivo do convite é simplificar a disputa entre petistas pelo governo de São Paulo em 2006, tirando-o do páreo, o convite é inútil porque ele continua pré-candidato.

O interlocutor presidencial aposta que a preferência de Dirceu e de Lula na sucessão paulista recai sobre o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), mas não crê em candidatura de consenso no partido. Como a ex-prefeita da capital Marta Suplicy também já assumiu sua pré-candidatura, a permanecer tudo como está, João Paulo terá de enfrentar os dois na convenção estadual que definirá o candidato do PT no ano que vem.

A proposta de Dirceu tampouco pôs um ponto final na pressão dos petistas para tomar o controle da Coordenação Política, entregue ao ministro Aldo Rebelo, do PC do B. Os petistas mais ligados ao ex-presidente da Câmara ainda trabalham para vê-lo instalado no Palácio do Planalto, comandando a articulação política do governo da cadeira do ministro.

Embora Lula tenha dado sinais de que pretende resistir às pressões de seu partido, mantendo Rebelo, há um reconhecimento geral, entre líderes petistas ou aliados, de que o atual modelo de articulação política faliu. A falência ficou clara aos olhos de todos com o fracasso da ofensiva governista para eleger o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) sucessor de João Paulo na presidência da Câmara. Nem os pepistas mais entusiasmados com a candidatura do novo presidente, Severino Cavalcanti (PP-PE), ousaram prever tamanha vitória sobre Greenhalgh, com vantagem de 105 votos.

Como João Paulo tem ascendência sobre o baixo clero, que é majoritário na Câmara e reina na gestão Severino, o governo avalia que ele poderá ser muito útil como líder. Mas isso não basta para acalmar os governistas e dar estabilidade política ao Planalto. A governabilidade passa pela resposta positiva do governo às demandas dos aliados, seja por verbas para prefeituras de suas bases eleitorais ou por cargos que acomodem seus apadrinhados.

É por isto que não há, nos bastidores, dúvida quanto ao preparo ou à competência de Rebelo. O que lhe falta, reconhecem todos, são os instrumentos eficazes de trabalho, como poder sobre nomeações e sobre a execução orçamentária. E disso o PT não vai abrir mão.