Título: 'O BNDES não é autoridade fiscal', reage Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2005, NAcional, p. A11

"É proibido investir?", perguntou o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ontem cedo, em mais um round da disputa verbal que vem travando com o presidente do BNDES, o ex-ministro Guido Mantega. No epicentro da briga, um empréstimo de R$ 390 milhões do BNDES para as obras de expansão da linha 2 do metrô paulistano. Na véspera, Mantega havia dito que a liberação do empréstimo tinha obstáculo "de ordem fiscal": poderia comprometer o déficit primário do governo federal. Ontem, no Rio, ele declarou que, sob o aspecto técnico, o projeto de ampliação da linha 2 do metrô de São Paulo "está bem constituído e pode ser perfeitamente aprovado" - mas voltou a condicionar: desde que a administração estadual apresente uma proposta que neutralize o impacto fiscal que o financiamento de R$ 390 milhões a uma empresa estatal causará. No fundo, o bate-boca tem muito mais a ver com o horizonte das eleições presidenciais de 2006 que com a propalada "ordem fiscal". Pouco a pouco, o governador exibe movimentos lentos, seguros e graduais para extrapolar o âmbito de São Paulo e posicionar-se nacionalmente como candidato à sucessão presidencial. Ele, que pouco saía de São Paulo até o ano passado, começou a mudar o ritmo. Fez duas viagens a vários Estados, em dois fins de semana seguidos, à época da eleição municipal; na sexta-feira esteve em Novo Hamburgo (RS) para participar da campanha do candidato tucano à prefeitura local, e foi recebido como candidato presidencial. Agora, prepara uma viagem aos EUA para encontrar ninguém menos que o grande amigo do presidente Lula, George W. Bush.

Alckmin rejeita comentários de que será candidato, mas aos poucos vai quebrando o gelo e se permitindo evidências de pré-campanha. Ontem, ao rebater a negativa do empréstimo pelo BNDES, disse que o argumento de Mantega era "inegavelmente estranho". Por trás de sua argumentação, sutilmente aventou a possibilidade de que a negativa do empréstimo pudesse ter razões político-eleitorais. Disse que "no mundo inteiro o metrô é construído com recursos do governo federal, a fundo perdido".

Nos dias 10 e 11 de março Alckmin viajará à Flórida (EUA), à frente de uma grande comitiva de empresários para participar do evento "State to State, Business to Culture", em que vai encontrar o presidente George W. Bush e participar de uma palestra com o governador Jeb Bush, irmão do presidente. Mas a viagem pode se esconder uma inteligente estratégia para criar uma relação direta com o presidente George W. Bush. Será uma oportunidade única para encontrar o presidente norte-americano: será aniversário de Jeb Bush e toda a família do presidente estará na Flórida. Alckmin leva a tiracolo a Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp), que executará Jobim Sinfônico.