Título: Dólar cai de novo e barril do petróleo supera os US$ 50
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2005, Economia, p. B11
A possibilidade de alguns bancos centrais começarem a se desfazer de ativos denominados em dólares fez a moeda americana ter nova queda em relação ao euro, para 1,3253. Esse recuo fez os preços do petróleo futuro e de alguns derivados registrassem forte alta. Em Nova York, os contratos de março fecharam cotados a US$ 51,15, uma elevação de US$ 2,80, enquanto o contrato de abril foi para US$ 51,42. Em Londres, o contrato do petróleo Brent ficou em US$ 48,62 o barril, alta de US$ 1,87. São os maiores valores em 12 semanas. Nos EUA, os contratos futuros de óleo de calefação e gasolina também projetaram altas expressivas. A forte desvalorização da moeda americana foi em grande parte conseqüência da informação divulgada ontem pelo Banco Central de Coréia do Sul de que irá diversificar parte de suas reservas de US$ 200 bilhões, sem esclarecer quais moedas poderia comprar - acredita-se que dará preferência ao euro. Essa possibilidade vem sendo admitida há meses por analistas. Os países asiáticos são os principais detentores de títulos denominados em dólares, principalmente ações de empresas americanas e bônus do Tesouro dos EUA. Uma crise de confiança nessa moeda poderia ter más conseqüências para Washington, que vêm financiando o seu déficit em conta corrente com esses papéis.
"O dólar caiu em poucas horas, e o petróleo está colado nele. Se o dólar continuar a se enfraquecer, a commodity irá subir mais, é óbvio", observou Chris Furness, estrategista da 4Cast.
As Bolsas americanas e européias sentiram o impacto. Com o petróleo mais caro, há o receio de que o lucro das empresas se dilua e os consumidores restrinjam os gastos. "O dólar mais fraco e o petróleo (futuro) mais caro estão derrubando o mercado acionário", disse Steve Goldman, estrategista da corretora americana Weeden & Co. Na Europa, ações de empresas sensíveis ao recuo do dólar e ao avanço da commodity caíram, entre elas as da BMW, Volkswagen e Air France-KLM.
OPEP
Quanto à nova alta do petróleo, acredita-se que não durará muito, e que esteja sendo puxada por especuladores. Um dos argumentos para a elevação é o inverno rigoroso na Europa e nos Estados Unidos, mas isso já estava embutido nos preços. Outro é a previsão decepcionante de exploração por parte de países não pertencentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em especial a Rússia, e o rumor de que o cartel estaria pensando em diminuir a extração.
Mas a Opep negou essa possibilidade. "Se os preços continuarem como estão, não haverá necessidade de corte", afirmou o presidente do cartel, o kuwaitiano Ahmad al-Fahd al-Sabah. E o ministro do Petróleo da Líbia, Fathi Bin Shatwan, disse que "só pensaríamos num corte se o barril caísse abaixo dos US$ 35 o barril".
James Cordier, diretor do Liberty Trading Group, da Flórida, afirmou que Opep não perderá a oportunidade de vender o maior volume possível de petróleo, caso as cotações futuras continuem subindo. "Essa situação será irresistível para os produtores do Oriente Médio", comentou.