Título: Kirchner pode ampliar prazo para troca da dívida
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2005, Economia, p. B13

Informações extra-oficiais indicaram ontem que o governo Kirchner estaria analisando uma eventual prorrogação da operação de reestruturação da dívida pública com os credores privados por mais alguns dias. A informação circulou um dia depois que Kirchner e o ministro da Economia, Roberto Lavagna, afirmaram enfaticamente que a operação seria concluída nesta sexta-feira, dia 25, sem nenhuma possibilidade de adiamento. Segunda-feira, o presidente e o ministro descartaram mudar a operação e negaram que o governo utilizaria a prerrogativa de adiar o encerramento da troca da dívida para 5 de março. Na ocasião, Kirchner até alertou os credores que não aderissem à operação de reestruturação de que ficariam com as "mãos vazias". No mercado financeiro especulava-se que as declarações de Kirchner e Lavagna poderiam ter sido parte de um "mise-en-scène" destinado a pressionar os credores ainda reticentes com "el canje de deuda", tal como é chamada a troca dos papéis da dívida argentina. Por trás da encenação estaria a preocupação do governo em não conseguir, até sexta-feira, um grau de adesão de credores que os mercados considerem aceitável. O Fundo Monetário Internacional exige que pelo menos 80% dos credores participem da troca de títulos para considerar o país fora da situação de calote. Segundo os jornais Clarín e El Cronista, o governo estaria diante de duas alternativas para prolongar a reestruturação. A primeira hipótese implicaria adiar o encerramento por alguns dias, sob o argumento de que diversos credores "atrasados" ficaram fora do processo. A segunda seria uma nova etapa de reestruturação,o semanas depois de encerrada a atual troca. Esta manobra conta com o antecedente protagonizado pela província de Mendoza, que meses atrás, após reestruturar sua dívida, reabriu a troca de títulos para incluir diversos credores que haviam ficado de fora na primeira etapa. Dados preliminares do Bank of New York divulgados ontem pela Comissão de Valores da Itália indicam que a proposta de reestruturação argentina alcançou, no dia 18, 50,12% de adesão. Isso indica que de um total de títulos em estado de calote a serem reestruturados, com valor de US$ 81,8 bilhões, Kirchner já conta com a adesão de credores que têm o equivalente a US$ 40,999 bilhões. Isso coincide com os valores mínimos estabelecidos pelo próprio ministro Lavagna para considerar o país fora do estado de "default". Em janeiro, quando anunciou o lançamento da reestruturação, Lavagna afirmou que o país encerraria o calote com 50% de adesão dos credores. A proporção está abaixo dos 80% de adesão exigidos pelo FMI, mas analistas acreditam que o governo poderá conseguir, nos próximos dias, pelo menos a adesão de outros 25% a 30% dos credores. Essa é a opinião de Claudio Loser, ex-diretor do FMI, que acredita que o governo obteria entre 75% e 80% do total. A expectativa é que a partir de hoje poderão aderir à troca os grandes fundos institucionais internacionais, donos de quase metade da dívida em "default".