Título: 'Destruir partidos para governar não vale o preço', diz FHC
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2005, Nacional, p. A5

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a relação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT e outros partidos políticos. "Tenho muitos anos de janela e não me lembro de ter visto nenhum momento de tanta confusão partidária", afirmou Fernando Henrique, que é presidente de honra do PSDB, referindo-se à eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados. Em entrevista de duas páginas ao jornal Correio Braziliense, o ex-presidente afirmou que "um governo que se elegeu com a história de um partido devia ter entendido que os partidos são importantes e que não vale o preço destruir partidos para poder governar". Fernando Henrique Cardoso avaliou também o quadro da sucessão presidencial, em 2006, e disse que o maior adversário do governo Lula é o PT. "É por causa do anacronismo. Isso não quer dizer que não haja esquerda e direita, progressista e atrasado. Mas progressismo não é isso que eles pensam que é. Em nome do que se imagina sejam os melhores ideais, querem voltar ao passado."

Para ele, o PSDB pode sair vitorioso do pleito em 2006 se conseguir mostrar "olha só no que essa garganta toda deu". "Nós temos outro estilo, com um pouco mais de segurança, competência na gestão, um pouco mais de simplicidade, sem tanta retórica", comentou.

Fernando Henrique aproveitou a entrevista para alfinetar o presidente Lula e pedir que ele leia um pouco mais. "Mas ele acha que está inventando a roda. A cada lugar que vai, diz que está fazendo pela primeira vez na história. 'Peraí', vai ler um pouco", afirmou FHC.

O presidente do PT, José Genoino, respondeu ao ex-presidente afirmando que a "confusão partidária" existente no País é culpa do governo de Fernando Henrique, e não do atual, já que o antigo governo teve oito anos para investir numa reforma política mas não o fez. "É fácil ficar agora dando lição. Mas ele deve lembrar que teve a oportunidade não fez."

O presidente do PT alega que este ano será a vez da reforma política e governo e PT vão investir nessa prioridade. Genoino atribuiu à falta de regras para os partidos os problemas enfrentados na eleição da Câmara, e não às dificuldades criadas pelo PT.