Título: E Severino tem pressa em obter ministério para o PP
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2005, Nacional, p. A6

Uma semana depois de eleito presidente da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) sugeriu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que abra logo espaço no governo para nomear um ministro do PP. Rindo, disse que se depender dele, esse ministério será o da Fazenda, "para tomar conta de tudo". A Fazenda é a responsável pela Medida Provisória 232, que aumenta o imposto dos prestadores de serviços, que Severino quer derrubar. Ele pediu ainda a destituição do presidente do PT, José Genoino, que tem criticado sua eleição. Genoino, que tem apenas cargo no partido e, portanto, não pode ser tirado do posto por Lula, respondeu que não baterá boca com Severino. "Quero só o diálogo." O PP, que ontem transformou um encontro regional em Rio Verde, Goiás, num grande ato de homenagem a Severino, aproveita a onda para tentar crescer e voltar a ocupar o espaço no cenário nacional. "Queremos ser o primeiro partido. Como foi a Arena, o PDS", bradou o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE).

Na primeira viagem que fez depois de eleito presidente da Câmara, Severino Cavalcanti viveu um dia de estrela. Recebido com fogos, faixas e muitos aplausos, foi considerado a "personificação da democracia". Apesar do desdém com que a cúpula do PP vem tratando a nomeação de um ministro depois de conquistar a presidência da Câmara, Severino afirmou que "é claro" que o partido deve ocupar uma cadeira no ministério.

"O governo tem de reconhecer o valor do PP. Eu prefiro que ele (Lula) faça a reforma rápido e convoque um dos grandes líderes que temos dentro do partido". O apoio à reeleição do presidente Lula, segundo Severino, vai ser uma via de mão dupla. "Depende do presidente. O tratamento que ele der ao PP é o que ele vai receber."

Severino confirmou que manifestou apoio a uma eventual candidatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em reunião com a bancada do PSDB na Câmara durante o processo que resultou em sua eleição, mas não se comprometeu. "Não vou hoje dizer que meu candidato é Fernando Henrique ou Lula. Meu candidato é aquele que melhor venha a atender os interesses da Nação e da população". Elogiando Lula, Severino disse que o petista será um forte candidato se continuar com a gestão que vem fazendo.

A reunião ontem em Rio Verde surpreendeu Severino e o próprio PP, que não imaginavam que o encontro fosse reunir cerca de 1.500 pessoas. A festa começou no aeroporto da cidade, onde cerca de 200 pessoas foram recepcioná-lo.

Pelos menos 30 carros seguiram Severino pelas ruas da cidade. Apesar de batedores da polícia pararem carros e até mesmo caminhões na BR-060 para Severino e comitiva passarem, não havia bandeiras nos veículos que pudessem identificar o homenageado.

Faixas do PP foram espalhadas pela cidade. Uma estampava o que foi repetido em discursos durante o encontro: "Democracia no Brasil chama-se Severino Cavalcanti". Foram mais de três horas de discurso. Todos os 12 deputados presentes falaram, mais o vice-governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), o secretário de Articulação Política do governo goiano, Fernando Cunha, representando o governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Rio Verde, Paulo Roberto Cunha (PP), além de outros pepistas.

Os discursos diziam que Severino derrotou a elite ao mesmo tempo em que críticas eram feitas ao governo. "Esse tsunami talvez passe por cima do governo na eleição de 2006. Vamos acordar o governo, vamos acordar o Brasil", discursou o líder do PP na Câmara, José Janene (PR). O locutor do evento, que ao bom estilo dos rodeios anunciava o discurso seguinte, referiu-se a Severino como " cabra bom", "cabra macho".

CHURRASCADA

Bem-humorado, Severino fez um discurso só com elogios aos participantes do encontro e disse que "o PP vai ter vez". Ele ainda recebeu um troféu do prefeito. Após os discursos, foi a vez do churrasco, em proporções também gigantescas. Cem costelões de boi, 300 quilos de carne, 3.000 litros de chope, 600 litros de refrigerante, doados ao PP, segundo o partido, por frigoríficos e distribuidoras de bebidas do local. O telão e o som custaram ao partido R$ 3,5 mil.

Preocupado em transmitir austeridade, Severino rejeitou apoio da estrutura da Câmara para a viagem, considerada partidária. Seguranças da Casa, no entanto, deram apoio a Severino. Eles viajaram de carro de Brasília a Rio Verde, n uma distância de mais de 500 quilômetros. O jatinho que o transportou foi alugado pelo PP por R$ 3.200, segundo Pedro Corrêa.