Título: Empresas com ações na Bovespa alcançam o maior lucro da história
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2005, Economia, p. B1

O bom desempenho da economia brasileira em 2004 trouxe resultados recordes para as empresas com ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Levantamento feito pela consultoria Economática, com 37 balanços divulgados até agora, mostra que as empresas faturaram R$ 107,71 bilhões e lucraram R$ 13,18 bilhões no ano passado - crescimento de 16,2% e 40,5%, respectivamente. O lucro operacional, antes de juros e impostos, também foi o maior da história e avançou 37,1%, para R$ 22,73 bilhões. A margem líquida das empresas subiu de 10,1% para 12,2%. Os números vigorosos são reflexo de uma série de fatores. Um deles é o sucesso das exportações. Só no ano passado as vendas externas cresceram 30% e somaram US$ 96,4 bilhões - resultado recorde no País. Apesar do recuo de 8% do dólar, que fechou o ano cotado a R$ 2,65, as empresas foram beneficiadas pela conquista de novos mercados no cenário internacional e pela valorização das commodities, afirma o consultor de investimentos da Global Invest, Marcio Bandeira.

A redução do endividamento das companhias também melhorou a qualidade dos balanços e contribuiu para os resultados expressivos. Entre dezembro de 2003 e dezembro de 2004, os débitos caíram R$ 6,79 bilhões, de R$ 49,451 bilhões para R$ 42,654 bilhões. Parte do recuo é explicada pela queda no dólar, já que boa parcela da dívida está em moeda estrangeira, diz o presidente da Economática, Fernando Exel. Segundo ele, a queda também se deve ao pagamento da dívida.

Esse resultado, combinado com o aumento do lucro operacional, melhorou o índice que mede a capacidade das empresas de honrar seus compromissos em dia. A relação entre lucro operacional e dívida financeira aumentou de 31,2%, em 2003, para 53,3%, no ano passado. Esse índice significa que, para cada R$ 100 de dívida, as empresas conseguem gerar R$ 53,3 de lucro operacional. "Já era um índice confortável. Agora, há uma folga maior ainda no caixa das companhias", avalia Exel.

Ele afirma que, apesar de ser o maior da história, o lucro líquido das empresas poderia ter crescido muito mais, se não fosse pelo câmbio. Em 2003, o dólar caiu 18,2%, para R$ 2,89, e provocou uma receita financeira de R$ 5,12 bilhões e uma despesa financeira líquida de R$ 2,93 bilhões. Já no ano passado, a moeda americana caiu apenas 8,1%, para R$ 2,65. Com isso, a receita financeira caiu para R$ 3,91 bilhões e a despesa financeira líquida subiu para R$ 3,62 bilhões. Foi esse aumento nas despesas que reduziu o ganho das empresas. "Não é um resultado ruim, mas como no ano passado a queda do dólar foi maior, a receita decorrente do recuo do dólar foi maior", diz Exel.

CAMPEÃS EM GANHOS

O levantamento da Economática mostra ainda que, das 37 companhias que já divulgaram os resultados de 2004, 19 tiveram lucros recordes. Neste grupo, a campeã é a Gerdau - maior produtora de aços longos das Américas. A empresa fechou o ano com lucro líquido de R$ 3,2 bilhões, alta de 158% ante 2003. O resultado, que superou o lucro de R$ 3,06 bilhões do Bradesco, foi decorrente tanto da alta do preço do aço como do crescimento do volume de vendas.

Da mesma forma, a Companhia Siderúrgica de Tubarão apurou o melhor resultado da história e ficou em segundo lugar no ranking dos maiores ganhos em 2004, com lucro de R$ 1,62 bilhões. Em terceiro lugar, aparece a Braskem - empresa da área petroquímica. "Além do início do ciclo de melhoria nos preços dos produtos, o setor é diretamente influenciado pelos resultados do mercado interno, que voltou a crescer em 2004", explicou Tereza Maria Fernandez Dias da Silva, sócia da consultoria MB Associados.

O ganho da empresa cresceu 221%, para R$ 690,9 milhões, e a dívida financeira caiu de R$ 8,43 bilhões para R$ 5,99 bilhões. Os números revelam consistente melhora da qualidade dos resultados da companhia petroquímica. Segundo relatório do Banco ABN Amro, esse desempenho favorável tem permitido maior geração de caixa, fator primordial para a melhora de sua estrutura de capital com amortização e mudança do perfil de endividamento.

O setor de papel e celulose, no entanto, teve desempenho aquém das expectativas. O lucro de Klabin, VCP e Suzano Bahia Sul, por exemplo, caiu no ano passado, em comparação com 2003. A explicação, segundo Bandeira, da Global Invest, é que a demanda baixa em 2004 provocou elevação nos estoques mundiais. "Mas, neste ano, a situação tende a ser diferente. A demanda está melhorando, o que deve contribuir para uma escalada dos preços do produto."

Entre as empresas do setor agrícola, a expectativa para o ano não é promissora. Isso porque o preço das commodities caiu bastante e deve afetar a rentabilidade das companhias, afirma Tereza. Já em relação às siderúrgicas, ela acredita que o preço não cairá tanto, mas o desempenho não será tão brilhante como em 2004.