Título: Novo sistema produtivo exige volta dos investimentos
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2005, Economia, p. B11

No mundo todo, a indústria de autopeças realizou investimentos nos últimos anos sem o retorno esperado. Por esse motivo, hoje está mais cautelosa, afirma Ralf Kalmbach, sócio sênior especialista na área automobilística da consultoria Roland Berger. Kalmbach acredita, entretanto, que no curto prazo os investimentos voltem a florescer, até porque é uma exigência do novo sistema produtivo do setor. Cada vez mais, diz o especialista alemão, o processo de produção dos automóveis está nas mãos das autopeças. Isso explica o surgimento dos chamados sistemistas, empresas que agregam componentes de vários fabricantes e entregam sistemas completos para as montadoras.

Na Europa, 65% do processo produtivo já é de responsabilidade das fabricantes de autopeças. Kalmbach acredita que, em oito anos, esse porcentual suba para 75%. As montadoras se responsabilizarão por apenas 25% da montagem dos veículos. "Por isso, os investimentos das autopeças estão voltando", diz.

O presidente do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Sindipeças), Paulo Butori, calcula que a indústria brasileira precisaria investir este ano cerca de US$ 1,2 bilhão para garantir o abastecimento de componentes sem riscos de gargalos - a exemplo do que ocorreu no ano passado em setores como o de forjaria, provocando paradas em algumas montadoras.

Parte desse montante está sendo negociada com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Sindipeças reivindica uma linha especial de financiamento, principalmente para as pequenas empresas. As montadoras aceitam ser avalistas do empréstimo.

"O setor sofreu muito nos últimos dez anos por ter feito investimentos sem retorno, pois o mercado só começou a melhorar em 2004", diz Butori. Daí a cautela. Entre as que aguardam sinais mais concretos de demanda para liberar investimentos está a Cummins, que tem projeto orçado em US$ 50 milhões para ampliar a fábrica de motores em Guarulhos (SP). A Eaton, fabricante de transmissões em São Paulo, deve decidir até o fim de março se abrirá uma fábrica no Estado do Rio Grande do Sul, ao custo de R$ 150 milhões.