Título: Expansão dita o ritmo no setor de autopeças
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2005, Economia, p. B11

O cenário incerto de juros altos e dólar em queda, apontado por vários setores produtivos como inibidores do consumo interno e das exportações, começa a preocupar os fabricantes de autopeças, mas não desacelerou os projetos de expansão para este ano. Parte do empresariado ainda aposta que a conjuntura atual é transitória e aponta para a necessidade de ampliação dos negócios, puxada pelo ritmo das montadoras de veículos e das vendas externas. Fabricantes de autopeças como Valeo, SKF, Elring Klinger, BorgWarner, ZF, International e TDM Friction colocam em prática planos de novas fábricas, aumento de capacidade produtiva e novas linhas de produtos. Até agora, as matrizes das empresas do setor aprovaram investimentos de US$ 800 milhões para este ano, 30% a mais que em 2004.

Em julho, a Elring Klinger, fabricante de juntas de cabeçote em Piracicaba (SP), inaugura nova fábrica na cidade. Vai produzir a matéria-prima usada em suas peças, denominada Ferroflex, hoje adquirida na Alemanha. Estão sendo gastos R$ 20 milhões na compra do terreno, construção do prédio e aquisição de equipamentos, diz o diretor da empresa, Hans Eckert.

A produção da Elring cresceu 53% no ano passado em relação a 2003. Pelo menos 20% dos produtos foram exportados. "Este ano não devemos conseguir esse aumento extraordinário, mas vamos ficar perto de 20%", diz Eckert. Cerca de 40 funcionários serão contratados para ampliar o atual quadro de 100 trabalhadores.

Apesar do fraco resultado de janeiro no mercado interno, a indústria automobilística, que fica com metade das autopeças fabricadas no País, mantém as projeções para este ano de aumento de 5% na produção (2,3 milhões de veículos), de 4% nas vendas (1,64 milhão de unidades) e de 7% nas exportações (US$ 8,9 bilhões). Porcentuais menores que em 2004, mas ainda assim em ascensão.

A demanda interna levou o grupo Valeo, com 11 fábricas no País, a construir uma unidade maior e mais moderna em Guarulhos (SP) para abrigar duas outras que hoje funcionam na capital. Com a transferência no segundo semestre, a linha de sistemas de segurança (maçanetas, fechaduras e trava de direção) terá a capacidade ampliada.

"Atendemos a demanda do mercado e mantivemos o programa de investimentos para nos adequar às necessidades dos clientes", diz o presidente da Valeo na América do Sul, Alain Kerozuré. Segundo ele, nos últimos meses a empresa operou os sete dias da semana e ainda assim ocorreram alguns gargalos. A nova unidade, que vai custar R$ 40 milhões, elimina esse problema. A Valeo tem 80% da produção destinada às montadoras. No ano passado, faturou R$ 1,1 bilhão, o melhor resultado desde sua instalação no País, em 1974.

Na BorgWarner, foram as exportações que lideraram o crescimento de 50% na produção de motores e transmissões. A fábrica de Campinas operou no limite. Para dar conta da demanda este ano, que deve aumentar 40%, a empresa vai investir US$ 3 milhões em ampliação de capacidade, segundo o gerente-geral Sergio Castione Veinert. "Queremos chegar ao fim do ano com 15% a 20% de capacidade ociosa." A empresa vai instalar uma nova linha de montagem e adquirir cinco máquinas. "Estou investindo com convicção", afirma Veinert.

Do faturamento previsto para este ano, de R$ 160 milhões, 40% serão obtidos com exportações, principalmente para Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Com o dólar atual na casa de R$ 2,60, Veinert diz que "troca figurinhas", ou seja, não há lucro. Mas ele acredita em melhor equilíbrio do câmbio futuramente, entre R$ 2,80 e R$ 3,00 por dólar.

O real apreciado atrapalha, mas há formas de compensação, como ampliar as importações de matéria-prima e componentes, diz Feres Macul Neto, presidente da TDM Friction, fabricante de pastilhas de freio a tambor, blocos e sapatas de freio da marca Cobreq. A empresa de Indaiatuba (SP) aguarda a chegada de máquinas de alta tecnologia importadas para a produção de pastilhas de freio com tecnologia inédita.

Elas serão instaladas em um prédio em fase final de construção ao lado da fábrica. "O Brasil é centro de competência para a produção desse componente e vai assessorar outras empresas do grupo no México e talvez na Espanha", diz Macul. O produto elimina problemas recorrentes em sapatas de freio, como oxidação e corrosão. Os investimentos para a ampliação de produção, novas linhas e tecnologia serão de 18 milhões até 2007. De acordo com Macul, até lá, as exportações da TDM, hoje responsáveis por 40% do faturamento, passarão a responder por 60%.

O resultado recorde de R$ 313 milhões obtido no ano passado, valor 30% acima do registrado em 2003 na divisão de produtos automotivos da SKF, vai atrair novos investimentos para a fábrica de Cajamar (SP). Líder no segmento de rolamentos e soluções industriais, a SKF passará a produzir, a partir de junho, rolamentos com sensores eletrônicos integrados a sistemas ABS, produto hoje importado.

A SKF também estuda investimentos para aumentar a capacidade da fábrica em 30%, além de ampliar a linha de produtos. A empresa deve abrir mais 80 vagas e ampliar o atual quadro, de 600 funcionários. "Esta é a parte mais gostosa: contratar gente", diz Eduardo Buchain, diretor de vendas da SKF.

Ricardo Fioramonte, diretor da divisão de sistemas, eixos e transmissões fora de estrada da ZF, de Sorocaba (SP), conta que a empresa vai investir, com recursos próprios, R$ 12 milhões em aquisição de novos equipamentos para ampliar capacidade e a linha de produtos.

A ZF exportou US$ 5 milhões em 2004 e prevê aumento de 40% este ano. "O dólar atual atrapalha, pois o retorno é menor, mas achamos que a situação é momentânea e logo o câmbio voltará a patamares adequados", diz Fioramonte.