Título: Francesa faz apelo dramático
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Internacional, p. A15

A jornalista francesa Florence Aubenas, de 43 anos, desaparecida há mais de sete semanas no Iraque, fez ontem um apelo desesperado por ajuda numa fita de vídeo enviada pelos extremistas que a seqüestraram em Bagdá e exibida pela TV italiana Sky. Na gravação não é mencionada nenhuma reivindicação dos seqüestradores nem o paradeiro do intérprete de Florence, capturado com ela. Visivelmente enfraquecida e abalada emocionalmente, Florence fez um pedido especial ao deputado da direita francesa Didier Julia para que intervenha no caso.

"Meu nome é Florence Aubenas. Sou francesa. Sou jornalista do Libération (diário francês, de esquerda)", disse, em inglês, olhando fixamente para a câmera. "Estou muito mal de saúde. Também estou muito mal psicologicamente. Peço, em especial, ajuda ao deputado francês Didier Julia. Ajude-me sr. Julia. É urgente."

Membro do partido conservador União pela Maioria Parlamentar, do presidente Jacques Chirac, Julia mantinha boas relações com membros do regime do presidente Saddam Hussein. Ele esteve no Iraque em setembro, por conta própria, numa malsucedida operação pela libertação dos jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot, seqüestrados em agosto. Na ocasião o governo acusou Julia de prejudicar seus esforços para soltar Chesnot e Malbrunot. Depois de libertados (após uma misteriosa intervenção do serviço secreto da França, em dezembro), Malbrunot e Chesnot também criticaram Julia.

Ontem, o governo francês alertou Julia para que não atue por conta própria e o primeiro-ministro da França, Jean-Pierre Raffarin, revelou que uma semana atrás as autoridades haviam recebido outro vídeo mostrando Aubenas - a primeira prova até então de que estava viva. Julia disse que pedirá a opinião da Comissão de Leis da Assembléia Nacional sobre se pode ou não intervir.

Já o chanceler da França, Michel Barnier, ressaltou que as autoridades estão examinando cuidadosamente a fita. "Tomaremos todas as medidas que considerarmos úteis. Não pouparemos esforços para libertá-la", disse Barnier.

Vários estrangeiros continuam seqüestrados, incluindo a jornalista italiana Giuliana Sgrena - cujos captores exigem a retirada das tropas italianas do Iraque - e o engenheiro brasileiro João José Vasconcellos Jr. Até agora os seqüestradores de Vasconcellos Jr. não divulgaram imagens provando que ele esteja vivo.

Em Roma, líderes religiosos cristãos, muçulmanos e judeus começaram ontem um período de breves jejuns em apoio à libertação de Giuliana. Não há notícias dela desde o dia 16, quando rebeldes enviaram a emissoras de TV um vídeo no qual ela pedia, chorando, a ajuda de amigos e parentes para pôr fim a seu cativeiro.

Coincidentemente, no mesmo dia o Parlamento italiano aprovou a renovação da permanência das tropas italianas no Iraque.