Título: Consumo de remédios para emagrecer cresce 500% em 5 anos
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Vida &, p. A18

O uso de remédios para emagrecer disparou assustadoramente no Brasil. Em cinco anos, foi superior a 500%, segundo relatório divulgado ontem por um órgão independente que trabalha com a ONU. Estima-se que o País esteja consumindo 20 toneladas de substâncias que compõem os coquetéis de moderadores de apetite, como a anfepramona e o fenproporex. "Esse padrão de consumo é inadmissível e deve ser combatido", cobrou o membro da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes Elisaldo Carlini. Numa dura cobrança às autoridades de saúde do País, o relatório da junta indica que o consumo desse tipo de medicamento explodiu depois que "uma legislação mais leniente foi introduzida em 1998". A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) contesta esse dado, lembrando que naquela ano entrou em vigor a Portaria 344, que prevê a venda desses remédios apenas sob prescrição médica.

Remédios de emagrecimento não são proibidos, porque podem ser necessários para alguns pacientes com problemas de obesidade. Contudo, a ânsia de emagrecer a qualquer custo faz com que muitas pessoas peçam ao seu médico uma receita com essas substâncias. É o pacto da má medicina. O Brasil é hoje o terceiro maior consumidor de drogas para emagrecer no mundo. Daí a necessidade de haver maior controle. "Depois a coisa caiu no esquecimento, a inspeção e fiscalização contínua não foram feitas adequadamente e a portaria foi deixada de lado", diz Carlini.

O relatório anual da junta apresentou outra preocupação: o aumento do comércio ilícito de remédios pelas farmácias virtuais, tornando a rede de computadores uma rota alternativa para o tráfico. Por ano, bilhões de doses de medicamentos com substâncias que provocam riscos à saúde são vendidas ilegalmente pela internet. Estima-se que 95% deles são drogas de uso controlado.

RISCOS À SAÚDE

Entre as substâncias perigosas vendidas na rede estão opióides (morfina), estimulantes (anfetamina) e benzodiazepínicos (alprazolan e diazepam). A questão envolve a automedicação e a irresponsabilidade com que médicos e farmacêuticos prescrevem esses medicamentos. Assim, aponta o relatório, cria-se uma legião de consumidores que buscam remédios onde quer que eles estejam. Há relatos de remessas de psicotrópicos comprados de uma farmácia virtual do Paquistão para a Suíça.

"Até mesmo as crianças podem comprar, uma vez que não existe mecanismo para impedir o acesso delas aos sites de venda dessas drogas", alertou Giovanni Quaglia, representante do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime. Nos Estados Unidos, crianças e adolescentes estão entre os consumidores.

Para o Brasil, esse é um problema que preocupa, já que o relatório indica que os últimos estudos epidemiológicos mostram que a prescrição de benzodiazepínicos e remédios à base de codeína tem sido exagerada. A recomendação da junta é que os países promovam campanhas para controlar a prescrição e o consumo dessas substâncias. Entre os brasileiros, a maconha é menos consumida que os benzodiazepínicos. A junta é um órgão independente criado para implementar as convenções da ONU sobre o controle de drogas. Estabelecido em 1968, conta com 13 membros, entre eles o farmacólogo brasileiro Carlini. A entidade enviou uma missão para avaliar a situação do Brasil em dezembro de 2003 e agora apresenta os resultados dessa visita.