Título: 'Alta do PIB não é vôo de galinha'
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B3

O crescimento de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado ontem não é um vôo de galinha, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O Brasil tem grandes chances de ter um vôo de crescimento longo, consistente equilibrado e forte, gerando empregos e aumentando a renda das famílias", disse. Mas alertou que os dados do crescimento não significam que os problemas do País estejam resolvidos. Ainda há uma extensa agenda de trabalho pela frente, lembrou o ministro, referindo-se ao conjunto de reformas microeconômicas que visam melhorar o ambiente de negócios no País e fortalecerão o crédito. Apesar da cautela, Palocci comemorou. "É uma excelente notícia para o Brasil, porque retomamos um nível de crescimento que não tínhamos há dez anos", comentou, durante uma rápida entrevista na portaria do Ministério da Fazenda. Ele destacou o fato de que o crescimento do PIB vem acompanhado pela elevação em 11% do nível de investimentos no País, puxados pela construção civil e por máquinas e equipamentos.

Na avaliação do ministro, há muito tempo o Brasil não tem um conjunto de condições tão favoráveis à economia ao mesmo tempo: controle fiscal e de inflação, investimentos em alta, aumento do PIB e melhora das contas externas. "São os sinais de que o Brasil pode crescer de forma equilibrada por muitos anos."

Nos corredores do Ministério da Fazenda, o resultado positivo do desempenho da economia foi recebido com alívio. Ele representa uma reafirmação das linhas da política econômica, o que deve serenar os ataques do "fogo amigo", pelo menos por algum tempo.

Ontem, Palocci reforçou essa idéia. Ele disse que o resultado positivo em R$ 11,373 bilhões nas contas do setor público em janeiro, divulgado anteontem, mostra que o governo continua com um compromisso fiscal forte - respondendo a críticas de economistas e analistas que apontam para um afrouxamento. "Esse compromisso fiscal continua. Para aqueles que eventualmente não vêem essa firmeza do governo, nada melhor do que os números para mostrar que o governo continua com um compromisso forte nessa área."

A austeridade nas contas públicas, assegurou, permitirá que o crescimento seja duradouro. "Temos dito que o Brasil fará o esforço fiscal necessário para reduzir a relação da sua dívida com o PIB", disse, acrescentando que isso foi feito nos dois últimos dois anos.

Palocci afirmou ainda que as atas do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) têm tido um valor "excepcional" na sua transparência. "Elas têm dito claramente qual é o caminho da política monetária. Nada fala melhor sobre a política monetária do que as atas do BC." Segundo ele, o mais importante é verificar que, mais uma vez, a política monetária mostra que tem cumprido um papel importante de controle da inflação.

Ele lembrou que, no início do ano passado, houve um debate forte sobre a política monetária, e o tempo mostrou que as iniciativas do Copom foram adequadas. Agora, disse ele, mais uma vez a política monetária do BC vem cumprindo o seu papel e vai dar "bons resultados".

POLÍTICA EQUILIBRADA

Na mesma linha, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o crescimento do PIB de 5,2% em 2004 mostrou com clareza o resultado de uma política econômica equilibrada. Esta política econômica, segundo ele, está baseada em uma política fiscal sólida, em uma política monetária que procura fazer com que a inflação convirja para as metas e em uma política de redução das vulnerabilidades econômicas do País.

Neste sentido, ele avaliou que o País está conseguindo compatibilizar a manutenção do superávit de conta corrente em um ambiente de crescimento da economia. "Isto é inédito no País." Neste campo, o presidente do BC citou o fato de as exportações terem atingido, em 12 meses até fevereiro, a marca de US$ 100 bilhões. Isto, segundo Meirelles, reforça os sinais de redução da vulnerabilidade externa do País. O dado também foi classificado por Palocci como o fato importante do dia.

Sobre a queda dos investimentos ocorrida no quarto trimestre de 2004 em relação ao terceiro trimestre, o presidente do BC afirmou que é "uma acomodação natural". A taxa vinha crescendo ao longo do ano a níveis elevados, tanto que a taxa de investimentos fechada do ano ficou em 10,9%, explicou. "Este processo evidentemente não é linear, ele pode ter algumas variações." Para 2005, Meirelles espera uma continuidade na expansão do nível de investimento na economia.

O presidente aproveitou a entrevista para declarar que tem "total confiança na política fiscal do Brasil". E fez questão de frisar que estava fazendo esta declaração aproveitando o momento em que estava em frente ao Ministério da Fazenda.

Também otimista, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou que o crescimento do PIB em 2005 será superior a 4%. Ele prevê que, neste ano, haverá um equilíbrio maior entre a contribuição dada pelo mercado interno e a do setor exportador para a equação da economia. O ministro acrescentou que acredita na expansão da demanda interna e informou que as estatísticas que serão divulgadas pelo setor de supermercados confirmam esta expectativa.